O “não é não” inverteu-se. Agora, é André Ventura que o diz. Depois de ter colocado, lado a lado, em cartazes, Luís Montenegro e José Sócrates, o líder do Chega não pode admitir ser parte de um governo com o atual líder do PSD. E isto limita-lhe o argumentário, que não pode ser o mesmo da última campanha. De “nós somos parte da solução para a mudança e vamos para o Governo com Luís Montenegro” passou a “nós não vamos para o Governo com Luís Montenegro”. Então, que utilidade terá o voto no Chega? Ventura está a torcer-se para resolver esse dilema. Numa entrevista televisiva, já comentou que, se Montenegro perder, virá outro. E essa parece ser a sua aposta: com um Montenegro vitorioso, o Chega fica mais longe do Poder. Com um Montenegro derrotado – e afastado –, o Chega fica a “um bocadinho assim” de atingir o “poleiro”. Claro que André Ventura vai pedir “uma oportunidade” e candidatar-se a primeiro-ministro, em pé de igualdade com Montenegro e com Pedro Nuno Santos. Mas ele sabe que ainda é cedo para lá chegar, se é que algum dia lá chegará. Portanto, a sua melhor hipótese é a vitória do PS (que muito dificilmente terá uma maioria de esquerda à sua disposição). O voto útil de Ventura é, pois, no PS.
O que é que sucederia a seguir? O Presidente da República indigitaria Pedro Nuno como primeiro-ministro. Nesse caso, das duas uma: ou a direita avançaria com uma moção de rejeição do programa do Governo, apresentando uma alternativa (já com outro líder do PSD, mais aberto a um acordo com o Chega) ou, mais provável, o PSD não terá tempo de efetuar a mudança de liderança, seguindo todos os passos dos estatutos – convocação de eleições diretas, campanha interna, congresso extraordinário – e haverá, dali a seis meses, o chumbo do Orçamento e/ou uma moção de censura. Nessa altura, com Marcelo impedido de voltar a convocar eleições, restará ao Presidente indigitar o (novo) líder do segundo partido mais votado, o PSD (ou a AD), que garantirá o apoio maioritário dos deputados, com o precioso contributo do Chega. E André Ventura é vice-primeiro-ministro. Na secretaria.