Esta quinta-feira é o grande dia: Luís Marques Mendes, advogado, comentador político, ex-presidente do PSD, antigo governante, apresenta, em Fafe, sua terra natal, a candidatura às eleições presidenciais de janeiro de 2026. Conhecido, com notoriedade assegurada, o que faz Marques Mendes optar por uma tão grande antecipação? Em primeiro lugar, a liderança da agenda. Não nos esqueçamos de que, no próximo fim de semana, o PS vai reunir a Comissão Nacional, órgão máximo entre congressos, para se decidir pelo apoio a um candidato socialista. No momento em que escrevo, ainda não se sabe se avançará algum, antes dessa importante reunião. Em segundo lugar, Marques Mendes sabe que, a partir da primavera, o debate político estará dominado pelas eleições autárquicas, que se disputam no início do outono. Portanto, é conveniente aproveitar o momento de relativa acalmia política para ter o pleno das atenções mediáticas. Marques Mendes parte para a corrida depois de ter feito um percurso quase decalcado de Marcelo Rebelo de Sousa: tal como o professor, foi líder do PSD, sem chegar a ser primeiro-ministro. Tal como o mestre, cultivou um perfil moderado e conciliador. Tal como o modelo, manteve, pacientemente, alguns anos de exposição, em canal aberto, através de um programa de comentário político, igual ao do antigo espaço televisivo do atual PR, seja na forma – comentário da atualidade, revelação de algumas notícias em primeira mão e fecho com recomendações de livros –, seja no conteúdo: um estilo livre, aparentemente descomprometido, à primeira vista distanciado e isento, mas sem dispensar a necessária agenda de quem nunca fez outra coisa senão política partidária. Não se sabe se funcionará. Pelas sondagens, está difícil: depois de um ciclo de dez anos de um Presidente “doce”, o eleitorado muda para um Presidente austero, antes de, dez anos depois, voltar à “doçura” (Sampaio-Cavaco-Marcelo). Se o histórico contar, este não é o momento para um candidato com o perfil de “um Marcelo de marca branca”…
O elefante no centro das salas partidárias chama-se, porém, Henrique Gouveia e Melo. Para já, há que desmontar dois preconceitos: a condição de militar não constitui um capitis deminutio. Gouveia e Melo tem os mesmíssimos direitos cívicos de qualquer outro. E dizer-se que a Presidência da República está vedada a quem não tenha experiência política é uma posição… monárquica. Nas monarquias, normalmente hereditárias, é que a chefia do Estado está reservada a uma casta. O almirante não abre a boca. Nem precisa. Ele lidera todas as sondagens, contra qualquer possível adversário, seja à primeira, seja à segunda volta. E penetra profundamente no eleitorado de todos os partidos, em especial, nos do chamado Bloco Central. Neste momento, ele é o favorito. E há quatro razões para isso.
Primeira razão: não se lhe conhece um pensamento político. Ótimo. O eleitorado não quer saber de “pensamentos políticos”. E se quiser, é para isso mesmo que servem as pré-campanhas e as campanhas. Por uma vez, pode ser que esta sirva para alguma coisa – além de espetáculo e “folclore”. Segunda razão: os portugueses guardam dele uma imagem de competência, no cumprimento de uma missão dificílima – a da organização do programa de vacinação contra a Covid-19 – durante a qual terá contribuído para salvar milhares de vidas. Ora, num país onde o Estado funciona mal, isto não é pequena coisa. Terceira razão: é uma figura muito mais carismática do que a concorrência e paira acima dos partidos. E os portugueses habituaram-se a apreciar aqueles presidentes que, na sua prática, mais suprapartidários se revelam. Numa sociedade permeável ao populismo antipartidos, este é um argumento demolidor. Quarta razão (que deriva da terceira): grande parte do eleitorado acha que aquilo de que o País precisa é de “um homem a cavalo”. E este é o principal trunfo do almirante.
Dito isto: as sondagens, nesta fase, são puro entretenimento, com pouco valor informativo. O foco do eleitorado não está nem aí. E Gouveia e Melo ainda não começou a falar. Para ele, a fase mais fácil está a esgotar-se. Uma vez candidato, a reverência ao “senhor almirante” esfuma-se. Passa a ser um entre iguais. Será confrontado, escrutinado e contradito todos os dias. Em horas de televisão, Gouveia e Melo leva dez a zero da concorrência. Tanto pode dar uma volta triunfal ao País, como pode deitar tudo a perder quando reagir mal a uma atitude hostil. Ora, como na obra de Horace McCoy, popularizada, na grande tela, pela mão do mestre Sydney Pollack, “os cavalos também se abatem”.
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