A verdade impactante do momento é que estamos reféns dos telemóveis. A dependência dos dispositivos móveis não é mais apenas um hábito quotidiano, mas sim uma epidemia silenciosa que define o século XXI. A nomofobia — o medo incontrolável de ficar desconectado — está a crescer a uma velocidade alarmante, alimentada pela explosão da digitalização e pelo reinado das plataformas e aplicações móveis. E o mais chocante? Estamos todos vulneráveis a ela.
Estudos de saúde mental lançam luz sobre este problema afirmando que cerca de 70% das pessoas experimentam níveis críticos de ansiedade ao perderem o acesso ao telemóvel, seja por falta de bateria ou sinal. Entre os jovens adultos (18 a 34 anos), mais de metade admite entrar em pânico diante da desconexão. E não para por aí: com o impacto da pandemia de Covid-19, que nos empurrou para o teletrabalho e interações virtuais, a nossa relação com os dispositivos atingiu proporções nunca vistas. O tempo médio de uso dos telemóveis disparou em impressionantes 40% desde o pré-pandemia, tornando-se quase impossível “desligar”.
Marshall McLuhan previa que a tecnologia nos conectaria como uma “aldeia global”. O que ele não antecipava era que nos tornaríamos dependentes ao ponto de não conseguirmos viver sem ela. Os telemóveis deixaram de ser apenas ferramentas e passaram a ser extensões do nosso ser, ocupando todos os espaços da vida: trabalho, lazer e até as nossas emoções.
Como psicóloga, cabe-me vislumbrar que a ubiquidade dos dispositivos torna a desconexão uma tarefa hercúlea. Mais do que desconforto psicológico, a dependência digital está a causar problemas físicos reais como dores musculares, má postura, fadiga ocular, além de noites mal dormidas, relações prejudicadas e produtividade em queda livre. Estamos a pagar um preço alto por esta obsessão tecnológica.
Mas nem tudo está perdido. Especialistas sugerem medidas simples e eficazes para retomar o controlo. Entre elas, pausas digitais regulares, como desligar o telemóvel durante as refeições ou antes de dormir, e até a prática de uma “desintoxicação tecnológica”, onde usamos as telas de forma consciente e limitada. Desligar pode ser o primeiro passo para realmente viver.
Campanhas educativas e programas de literacia digital começam a surgir, trazendo uma mensagem clara: é hora de equilibrar. A tecnologia deve servir o ser humano — e não o contrário. Precisamos recuperar o domínio sobre os nossos dispositivos e, com isso, sobre nós mesmos.
A nomofobia pode ser o reflexo de uma sociedade hiperconectada, no entanto, a necessidade sucumbir a ela, deve ser completamente colocada de lado. A desconexão consciente pode ser o antídoto perfeito para um futuro mais equilibrado, pleno e, finalmente, livre.
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