A presença de Vasco da Gama no imaginário coletivo foi garantida pelo poema épico Os Lusíadas, de Camões, publicado em 1572, organizado em torno da primeira viagem de navegação entre a Europa e a Ásia do Sul. A viagem é um pretexto literário para falar da História de Portugal, celebrando o passado para criticar o presente, como bem viu Hélder Macedo. O passado, contudo, não está livre de comentários agudos do poeta, como a fala do Velho do Restelo contra o despovoamento do País para a vanglória de poucos, ou as acusações de pilhagem e crueldade formuladas por Baco, figura mitológica que dá voz aos povos da Ásia. Camões foi um bom herdeiro de Homero e Virgílio, que nunca deixaram de olhar para os dois lados (vencedores e vencidos) dos factos heroicos que narraram.
Vasco da Gama não é um herói de armas como Aquiles, Heitor, Ulisses, ou Eneias. A primeira viagem de 1497 é comemorada como uma exploração marítima bem-sucedida que abriu uma importante rota. Contudo, a diplomacia ensaiada com algumas autoridades do oceano Índico foi pobre, resultando em humilhantes revezes, económicos e militares, como aconteceu em Calicute.