A 4 de agosto de 2023, em plena Jornada Mundial da Juventude, o Papa Francisco esteve no Bairro da Serafina, em Lisboa. Viu com os seus próprios olhos as dificuldades com que vivem aquelas gentes e o trabalho notável desenvolvido pelo setor social através do Centro Paroquial e Social de São Vicente de Paulo, ou de associações como a AMAS – Associação de Moradores do Alto da Serafina ou a ABFA – Ajuda Bebés e Famílias Associação, para tentar mitigar as dificuldades de quem ali habita.
Como é próprio das visitas de Estado – sim, a viagem de então do Sumo Pontífice a Portugal não foi apenas ecuménica ou de peregrinação já que estávamos perante um Chefe de Estado estrangeiro –, o Papa levou consigo um séquito de personalidades do clero, da política e de vários setores da sociedade. Entre elas estava Carlos Moedas.
O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, como é seu costume, não resistiu ao vitupério e gabou-se, do que fez e do que não fez como se tivesse feito, e de tudo aquilo que continua por fazer. Dizia à época que estava em curso o maior projeto de habitação que Lisboa alguma vez tinha visto – a memória é tramada quando nos lembramos da obra marcante para a cidade de figuras inspiradoras como Jorge Sampaio ou João Soares – mesmo que deste plano nem uma primeira pedra tenha lançado. E louvava-se por “já” ter entregue 1200 chaves de casas que herdou da governação do PS. Mas isso, como diria uma figura da nossa televisão, não interessa nada. Nessa altura, aos Lisboetas da Serafina, Moedas prometeu, solene, devolver a vida com dignidade aos moradores do bairro que se sente esquecido.
A verdade é que, passado um ano, nada mudou. Está tudo na mesma ou até pior. As casas estão com mais um ano de degradação em cima e, muitas delas, sem água, sem esgotos e sem as condições mínimas. As ruas são o espelho da Lisboa dos últimos três anos – sujas e cheias de buracos – e os contentores o reflexo das prioridades da Câmara de Lisboa – pejados de lixo por recolher e o isco perfeito para as pragas de bichos portadores de doenças. Esta é a Lisboa real em confronto com a Cidade da propaganda que é vendida por Carlos Moedas.
O Papa Francisco, em 2023, falou da urgência de fazer, de concretizar, da necessidade de sujar as mãos. Carlos Moedas ouviu e, um ano depois, calou. O atual presidente da CML, já todos percebemos, não é dos que faz, não é dos que concretiza e, muito menos, não é dos que suja as mãos. Moedas é, isso sim, um ilusionista e um usurpador do trabalho alheio. Parafraseando Pessoa, Moedas é um fingidor/ Finge tão completamente/ Que chega a fingir que é sua/ A obra que é de outra gente.
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