Começa o novo ano político, letivo, judicial, e por aí fora, sob o signo da mesmice. No essencial, vira o disco e toca o mesmo. Era expectável que fosse diferente? Julgo que não. Muito diferente? Decerto impossível. Limito-me a algumas notas à margem, necessariamente telegráficas, sobre alguns assuntos que estiveram em “pauta”…
As rentrées partidárias.
Em regra são, e de novo foram, o primeiro sinal de que mais ou menos tudo continua(rá) como antes. Em relação ao passado, perderam impacto e força. Inclusive a mais relevante, a Festa do Avante!, do PCP, que mobiliza e atrai muito mais gente do que todas as outras, também pela sua vertente cultural e musical, ultrapassando as fronteiras do partido. Já não é o que era, por óbvias razões, mesmo assim distingue-se das restantes e, comparada com elas, uma vez mais não teve a cobertura mediática devida.
O regresso às escolas
O ano letivo começa, no fundamental, com os mesmos problemas do(s) anterior(es). Entre os quais avultam o da falta de professores e as greves que dificultam o funcionamento das escolas e a aprendizagem dos alunos. Durante anos, não se sabia ao certo quando as aulas começavam, imensos docentes nem eram “colocados”, etc. Mas a carreira foi-se tornando cada vez menos atrativa, mormente devido às remunerações – os professores no ensino público (não superior) são cerca de 130 mil, por isso o que lhes é pago pesa muito no Orçamento do Estado. Apesar disto, e do que implicaria em relação a situações semelhantes, creio ter sido um erro do primeiro-ministro arredar em definitivo a possibilidade dos docentes recuperarem, mesmo de forma faseada, o devido por 6 anos, 6 meses e 23 dias de serviço congelados.
Seja como for, os professores já conseguiram, em outros domínios, algo do que justamente pretendiam. Tenho o ministro como competente, empenhado e homem de diálogo, espera-se dos sindicatos que, sem deixarem de prosseguir a defesa das suas causas, o façam com inteligência e abertura, sem radicalismos que só prejudiquem as escolas, os alunos e eles próprios.
O novo ano judicial
Também neste importantíssimo setor não se vislumbra nada de novo relevante. Mantendo o que vem de longe, a cerimónia “solene” que o assinala só, insolitamente, ocorrerá bastante mais tarde. Com os discursos da praxe, críticas, propostas, promessas – sem efetivas consequências. E a Justiça é um setor importantíssimo, para o País e para os cidadãos, com problemas pelo menos tão graves, e mais difíceis de resolver, do que os da saúde e da educação. Para já, greves dos funcionários que continuam – e uma ministra séria, boa jurista, mas cuja ação e intervenção marcantes não se descortinam.
As relações Marcelo/Costa
Assunto sempre em pauta, sobretudo quando faltam assuntos, em que nada de substancial, de momento, se alterou. Apesar de Marcelo, mesmo a veranear, dar uma espécie de conferência de imprensa diária. Relações, desde o “caso” Galamba, com aspetos e episódios no mínimo dispensáveis. No entanto, não se justifica dramatizar: quer o Presidente quer o chefe de Governo têm características e “qualidade” suficiente que garantem que não ultrapassarão os limites constitucionais nem criarão situações perigosas ou de impasse para a democracia e o País. E se as constantes intervenções de Marcelo, amiúde com críticas diretas ou indiretas ao Governo, enfraquecem ou podem enfraquecer o primeiro-ministro, temo que, por tão repetidas e por vezes sem forte fundamento, afetem ainda mais o Presidente, diminuindo a credibilidade e eficácia de eventuais indispensáveis intervenções de fundo.
As presidenciais de 2026…
Como – para além dos casos e casinhos, reais ou pura ficção – há sempre um “tema” que uma ou duas semanas invade a comunicação social, sem pertinência e fora do tempo, ele também agora não faltou: as presidenciais de 2026 e seus possíveis candidatos. Para aumentar o picante, e o nonsense, dizem-me que foi lançado por Santana Lopes numa entrevista. Depois, Marques Mendes, no seu comentário político, interrogado (decerto contra sua vontade…) sobre se poderia ser candidato, lá disse o que se esperava. Etc. e tal, como de costume.
À MARGEM
Uma Cimeira e coisa nenhuma
De dois em dois anos, há uma Cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). A última foi a 28 de agosto, em S. Tomé e Príncipe, com chefes de Estado e/ou de governo dos nove países que a integram. Fora de pauta, ou pelo menos de foco, até da comunicação social portuguesa, apesar de lá terem estado Marcelo e Costa. Porque a CPLP foi-se tornando cada vez mais irrelevante, invisível. Escrevi no JL, Jornal de Letras, que (como eu) à génese e lançamento da Comunidade esteve tão ligado, sobre o zero (dourado?) que, significativamente, foi essa Cimeira. Aqui, só posso assinalar que as suas conclusões têm 52 156 carateres, aí umas dez páginas da VISÃO – apenas “words, words, words”. E que, por exemplo, se reforça a importância do “central” Instituto Internacional de Língua Portuguesa, que passa a ter o fantástico orçamento anual de 309 953,89 euros!…
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