Nem passou, sequer, uma semana: assim que Pedro Santana Lopes, na SIC, foi minimamente explícito perante a hipótese de uma candidatura a Belém, Luís Marques Mendes, na mesma estação, veio lançar a própria pré-candidatura, numa evidente marcação homem a homem, procurando ocupar a pole position das presidenciais de 2026. Estamos a dois anos e meio do pleito eleitoral, mas os calendários políticos são como as colheitas de outono, vindimas incluídas: cada vez mais sofrem antecipações bruscas – e, neste caso, isso nem se deve às alterações climáticas. Repare-se que, mesmo no passado, às vezes foi igualmente assim: Jorge Sampaio, numa célebre entrevista ao Expresso, também dois anos antes das presidenciais de 1996, já dizia que “seria estimulante” defrontar Cavaco Silva, numa eventual candidatura a Belém. Nessa altura, estava longe das cogitações do líder socialista e primeiro-ministro, António Guterres, apoiar aquele que havia sido seu adversário – e quase inimigo – nas eleições para secretário-geral do PS, em 1992. Guterres teria preferido outro nome, Fernando Gomes, então autarca-estrela do Porto, por exemplo. E o próprio Mário Soares, que ocupava o cadeirão presidencial do palácio cor de rosa, fez de tudo para arranjar alternativas a Sampaio, nome que lhe desagradava. Marques Mendes, alertado pelas campainhas da iminente candidatura de Santana Lopes – e, também, por eventuais aspirações de outros nomes bem posicionados à direita, como Paulo Portas, seu concorrente da TVI, no tempo de antena televisivo de domingo –, terá decidido antecipar os próprios timings para dizer a Santana: “Eu é que sou o presidente da junta” – quiçá, amanhã, da República.
O pré-anúncio de Marques Mendes parece estar alicerçado num entendimento, quer com Belém quer com o líder do PSD. Ao contrário de Sampaio, em 1996, Marques Mendes tem um “padrinho” na Presidência e a expectativa de contar com a máquina partidária do PSD, que não é estranha à sua presença, 16 anos depois, na Festa do Pontal, ao lado de Luís Montenegro. Por acaso, Marcelo não teve a mesma sorte e, aí, haverá mais afinidades com Santana: ele fez uma campanha solitária, com o apoio contrafeito do líder social-democrata (Pedro Passos Coelho) e perante a desconfiança histórica, relativamente à sua pessoa, de Cavaco Silva, o então inquilino de Belém, que teve uma tirada célebre quando se referiu a Marcelo, anos antes, como “o dr. Marcelo de Sousa”… Santana enfrenta os mesmos óbices: um Presidente hostil e uma direção do PSD indiferente, com a agravante de, ao contrário de Marcelo, ele nem sequer ser já militante. Marques Mendes, por seu turno, segue, em tudo o resto, todos os passos do atual Presidente. Vejamos, em três pontos, qual a receita de sucesso de Marcelo de que Marques Mendes faz copy-paste.