Parece que não, mas os tempos de intervalo entre as mudanças de ano político estão a encurtar-se. Há uma tendência de atividade partidária non-stop. A rentrée da Iniciativa Liberal, no domingo passado, e a Festa do Pontal do PSD, nesta segunda-feira (dia de “ponte”, mas, apesar de tudo, dia da semana, quando o evento tinha decorrido sempre, em anos anteriores, ao domingo), são a melhor demonstração de que o tempo urge. Vários fatores contribuem para esta circunstância, mas a proximidade de ano eleitoral (eleições para o Parlamento Europeu em 2024, para não falar das regionais da Madeira já em setembro), bem como a necessidade de alguns partidos de se antecipar à concorrência e marcar a agenda, podem explicar o pico político desta semana, num período que se esperaria de silly season. O presidente da IL, Rui Rocha, no seu comício em Armação de Pera, pediu, sem surpresa, uma baixa de impostos. Só que, entre os dez compromissos apresentados pelo partido – num número redondo que fica sempre no ouvido –, há propostas interessantes fora da agenda habitual, como a de uma nova política para a água, “trazendo-a de onde ela abunda para os locais onde escasseia”. A falta de gestão da água, num País onde, comparativamente, não chove assim tão pouco, carece urgentemente de um forte investimento nas infraestruturas relacionadas com os recursos hídricos – o que é caro, demora tempo e pode não ter grande retorno em votos. Por isso mesmo, aqui está um tema que deveria ser objeto de um pacto de regime entre os diversos partidos – já que, previsivelmente, por si só, nenhum deles se chegará à frente. Mas o grande tema da rentrée lançou-o Luís Montenegro, no Calçadão de Quarteira.
As suas ideias no domínio dos impostos antecipam a grande discussão que será desenvolvida em sede de Orçamento do Estado e que se prende com uma baixa generalizada do IRS e/ou do IRC. O lançamento dos dados, por parte do PSD, dá-lhe a dianteira, mas nós já vimos este filme: é que, no ano passado, Montenegro convocou a Imprensa para apresentar um plano de apoios sociais no âmbito do combate à inflação – mas rapidamente foi ultrapassado pelo Governo, com um projeto bastante mais ambicioso no apoio às famílias. Na verdade, o que poderemos ter, nos próximos tempos, é um leilão político-eleitoral entre PS e PSD para ver “quem dá mais”. O que o Estado tem arrecadado em termos de receita fiscal – e isto inclui os seus próprios “lucros excessivos” decorrentes da inflação… – permitirá ao Executivo fazer umas “flores”, tendentes a entalar a oposição. Compreende-se, assim, que o PSD se queira antecipar. E se os socialistas prometerem a Lua, os sociais-democratas exigirão o Sol. O desfile de promessas começa agora, em todas as rentrées partidárias, prosseguirá na discussão do Orçamento para 2024 e continuará nos aumentos que aí virão para a Administração Pública. Pelo meio, várias pedras no sapato do Governo incomodarão alguns dos seus ministros: os médicos persistem nas suas greves e os professores – que, neste fim de semana, exibiram tarjas transportadas por avionetas, que sobrevoaram as praias portuguesas – não só não abrandarão como intensificarão as suas formas de luta. No horizonte, finalmente, a famosa remodelação que António Costa vai anunciar quando menos se esperar. Tudo a postos?
O leilão político das “rentrées”
O lançamento dos dados, por parte do PSD, dá-lhe a dianteira, mas nós já vimos este filme
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