Há uns tempos, fruto de certas vontades, voltou-se a falar, com alguma insistência, no tema “Cidades 15 minutos“. Apesar de surgir, agora, com uma “nova roupagem”, o facto é que o assunto não é novo nos círculos do urbanismo, do planeamento, do ordenamento, enfim, da gestão do(s) território(s).
Mas esta tendência de sermos levados a querer muito adotar, quase sem reservas, tantas vezes até sem muito crer, o que se faz noutras “paragens”, parece arrastar consigo uma certa falta de … discernimento, alguma imprudência.
Afigura-se lógico que não poderemos “fazer uso” do conceito “Cidade 15 minutos“, em todo o seu suporte teórico-argumentativo, e “adotá-lo/aplicá-lo” às vilas/cidades portuguesas.
Por muito que se diga que somos mestres do diagnóstico (e menos bons a planear e a executar), importa conhecer a realidade passada e presente para preparar o futuro!
Estando em causa, acima de tudo, o conceito de “proximidade”, e apesar dos consensos que tal parece reunir em tantas áreas, diz-nos o bom senso que têm sido os múltiplos (pre)conceitos a condicionar a sua “adoção” plena.
Ao nível da política pública, a ideia de proximidade está na ordem do dia, sendo inúmeros os exemplos com que nos vemos confrontados. Digamos que o expoente máximo de uma tal constatação residirá no facto de se falar, em tantos quadrantes, de … política de proximidade (seja social, económico, cultural, saúde, etc.).
Como noutras dimensões do conhecimento, diria que aquilo que a teoria tão bem explica, deixa muito a desejar ao nível dos recursos que a sua prática implica, daí que este reaparecimento do foco na “proximidade”, concretamente das “Cidades 15 minutos“, merecerá ser objeto de análise crítica, talvez, “setorial” (atividades económicas, transportes, saúde, educação, cultura, …), casual e casuística.
Na relação Cidade(s)-Comércio(s), independentemente de já poucos porem em causa que as “Cidades são filhas do Comércio”, será contraproducente querer trabalhar o conceito de ”proximidade” sem considerar “tempos” e “vontades”!
De facto, também, no Comércio, vivem-se, em permanência, tempos de mudança e a variável “tempo” é, em si, a chave da mudança, ainda que as vontades não sejam algo a desconsiderar.
Os tempos são importantes (daí esta imagem dos “15 minutos”), mas quando se “trabalha” o Comércio, as vontades serão determinantes!
Entendido o Comércio como verdadeira arte da coincidência, pois para que o mesmo possa acontecer, procura e oferta têm, necessariamente, de coincidir, há que “desconstruir” alguns preconceitos de forma a viabilizar, adaptando se possível, o(s) conceito(s) em apreço.
A “proximidade”, conforme percecionada na investigação sobre Comércio, consistirá na desejável e necessária “aproximação” entre oferta e procura, entre a manifestação e a satisfação plena da necessidade. “Fazer-acontecer” o Comércio passará, então, por criar condições para que se possa vender o que se compra e não o seu contrário.
Assim, num plano mais amplo, poder-se-á dizer que nas “Cidades 15 minutos” o tempo aferir-se-á na exata medida em que nem só a distância dita a … proximidade!
Se nos anos 90, na esfera da política pública para o sector do Comércio, se adotou o slogan – “a Tradição já não é o que era!“, hoje parece não ser de afastar … algo como “a Proximidade já não é o que era!“.
Importa ter presente que Planeamento, Organização e, posterior, Gestão do Território são fases prévias (e obrigatórias) ao denominado…Marketing … Territorial, pois poderá ser, afinal, disso, apenas disso, que se trata.
Ainda assim, importa precisar que as “Cidades 15 minutos” não serão, jamais, uma espécie de “Cidades Lucky Luke” em que tudo é mais rápido do que a própria sombra, como acontecia com o famoso personagem da banda desenhada.
De(ter) a vontade de viver a grande cidade como cidade média ou vila, não fará com que se mude o rumo dos tempos, pois o relógio é … sempre o mesmo.
Por entre tantos “conceitos” de Cidade não será, de todo, preciso criar as Cidades … utópicas!