Primeiras impressões sobre as projeções eleitorais:
1 – Os ex-parceiros do PS na defunta geringonça são severamente punidos pelo eleitorado.
2 – Isto confirma que o povo de esquerda ficou mesmo zangado pelo chumbo do Orçamento e que não aceitou as explicações do BE e do PCP.
3 – O voto útil terá funcionado mais à esquerda do que à direita: o PS capitaliza melhor do que o PSD.
4 – Bloco e PCP arriscam-se a ser os novos partidos do táxi.
Comecemos pelo ponto 1: António Costa soube explorar o sentimento de frustração do eleitorado de esquerda. As tentativas desesperadas, por exemplo, de Catarina Martins reativar a chama da geringonça (apesar de a aritmética parlamentar final até poder dar-lhe razão…) não funcionou, no sentido da fixação de voto no Bloco.
Ponto 2 : O eleitorado à esquerda terá compreendido as razões do Governo e percebido mal as dos antigos parceiros. As primeiras impressões sobre a perplexidade da rua, face ao chumbo do Orçamento, são confirmadas.
Ponto 3: O PS tem a vantagem de concorrer à esquerda, contra um partido em decadência há décadas – o PCP – e contra outro que tem uma tradicional dificuldade em fidelizar eleitorado: o Bloco é uma força política de picos eleitorais – e este era um pico “para baixo”. Já o PSD concorre contra partidos emergentes, que não estão gastos pela participação em soluções de poder. Era mais difícil combater este “efeito novidade”.
Ponto 4: António Costa, não tendo maioria absoluta nem “ecogeringonça”, até pode vir a precisar do BE e da CDU para construir uma maioria. Isto demonstra que o poder de influência dos pequenos partidos pode ser desproporcionado, tendo em conta a expressão eleitoral. Nada disso acontecia dantes, quando o segundo partido mais votado viabilizava os governos do mais votado, retirando capacidade de manobra aos mais pequenos. A julgar pela postura anunciada por Rui Rio, ao longo dos últimos meses, podemos voltar a esses tempos. Mas – dependendo dos resultados do PSD ao final da noite… – não sabemos se ele continuará a liderar o PSD. Não é líquido que resista a mais esta derrota.