Esta é a pergunta que as pessoas mais (se) fazem nos tempos em que vivemos. Talvez tão cedo a pandemia não acabe definitivamente, mas precisamos, pelo menos, que fique sob controlo. De cada vez que termina uma vaga, desejamos que seja a última. Mas nunca é.
Quase um ano e meio depois do início da pandemia, é certo que avançou finalmente a vacinação, mas grande parte das restantes carências estão na mesma.
Estamos numa nova vaga, outra vez com os mesmos problemas de resposta, salvo o menor impacto nas faixas etárias mais avançadas, agora mais protegidas pela vacina. Voltarão as intermináveis discussões sobre a necessidade de um maior ou menor confinamento, e as medidas de gestão meramente política como a restrição de entrada e saída da Área Metropolitana de Lisboa (mas apenas aos veículos privados, uma vez que nos transportes coletivos não havia restrição…).
Quase um ano e meio depois, a reação à nova vaga continua baseada na mesma estratégia inicial, com o mesmo único instrumento: confinar.
Não se nega que esse recurso tem um papel a desempenhar nos momentos mais complexos. Mas reduzir a resposta a esta opção, aquela que tem mais efeitos colaterais, é um desastre. E, no entanto, é nesse ponto que continuamos, quase um ano e meio depois.
O caso da enfermagem é disso bom exemplo. Continuam os contratos a termo de quatro meses, pouco atrativos para os profissionais. Generalizam-se os contratos com empresas de trabalho temporário para fazer face às necessidades da vacinação e, na prática, impôs-se às autarquias das zonas mais populosas a contratação de enfermeiros, sob pena de os centros de vacinação funcionarem a meio-gás, agora que há vacinas suficientes.
Podia falar também da realização dos inquéritos epidemiológicos que, com a subida dos casos positivos, vai (mais cedo do que tarde) começar a atrasar-se, já que não houve reforço significativo das equipas de saúde pública; ou dos rastreios e intervenções direcionados em comunidades mais afetadas, através de equipas multidisciplinares, para os quais seriam necessários mais profissionais, em particular de enfermagem, que agora estão na vacinação.
Na realidade, o que se exigia com urgência no ano passado por esta altura, para permitir enfrentar o acréscimo de casos no inverno, continua a estar por fazer. A política de saúde é dirigida pelo Ministério das Finanças.
Mas mesmo nas Finanças, alguém devia fazer as contas à suposta poupança que a proibição de contratação de profissionais de forma permanente traz. Esses financeiros cuja única lógica é o défice, nem percebem que esta política é, não só desastrosa para as pessoas, como geradora de mais despesa.
Provavelmente não querem saber dos ganhos em saúde que mais profissionais qualificados permitem atingir; nem da possibilidade de vacinar mais rápido; nem da capacidade de rastrear e intervir rapidamente junto dos focos de infeção; nem da estabilidade laboral dos enfermeiros. Não se importam com as dificuldades no acesso aos centros de saúde, às consultas de especialidade, aos tratamentos e cirurgias.
Estes financeiros do desastre económico não querem saber das pequenas empresas, nem dos desempregados, nem da desigualdade social.
Mas se não querem fazer as contas à saúde dos portugueses, à vitalidade da economia ou à redução da pobreza, pelo menos façam contas aos gastos que a falta de investimento nos serviços de saúde faz crescer.
Façam contas aos gastos com internamentos, subsídios de desemprego ou apoios para salvar empresas. Façam contas à perda de receitas fiscais por via da debilidade da economia. Façam contas à perda de produtividade por sucessivos dias não trabalhados. Façam contas às falências. Façam contas ao aumento das necessidades de apoio social.
A não ser que queiram abandonar ainda mais as pessoas e as atividades económicas. Espero que não seja esse o plano!
O absolutismo do défice está a afundar o país e a atrasar o combate à pandemia.
É caso para perguntar: quando é que isto acaba?
(Opinião publicada na VISÃO 1474 de 24 de junho)