“Nestas janelas é que eu me alívio” é esta a frase que a minha mãe, doente com Alzheimer há cerca de 3 anos, dizia quando lhe perguntava se estava tudo bem. Estas fotografias apenas querem mostrar de uma forma muito crua o que vejo quase todos os dias na doença da minha mãe.
São as janelas que a faziam ainda ter alguma liberdade física mas, acima de tudo, liberdade mental. É à janela que ela se encontra com o que foi e com o que ainda é, seja na da cozinha, na do quarto ou na da sala, é sempre a janela que ela procura, são horas que ela passa sentada especialmente à janela da cozinha, com um olhar vazio de memorias. Não é desta mãe que me recordo, quando vivia cá em casa, essa foi uma trabalhadora incansável até aos 85 anos, agora não passa de uma mulher perdida.
Se as dificuldades em lidar com a doença de Alzheimer já são imensas, com a chegada da Covid-19 ainda se acentuaram mais. A quebra das rotinas, a permanência em casa e o pouco contacto com os familiares e amigos são devastadores para estes doentes. É o caso de Maria do Rosário de 89 anos, que deixou de ir para o centro de dia, de fazer o seu passeio diário, de estar com os filhos e com os netos, ficando obrigada a uma permanência constante em casa – é impossível explicar a esta senhora que não pode ir à rua, pois a memória presente é a do passado quando o cérebro ainda tinha capacidade de a armazenar.
Qualquer pessoa pode desenvolver a Doença de Alzheimer, no entanto, é mais comum acontecer após os 65 anos. A taxa de prevalência da demência aumenta com a idade. Nas idades acima dos 85 anos, a demência afeta aproximadamente 1 em cada 4 pessoas. Em Portugal, estima-se que existam cerca de 200 mil casos de doentes de Alzheimer.