O setor imobiliário evidenciou nos anos transatos uma dinâmica assinalável, tendo conseguido superar as imensas dificuldades originadas pela designada crise das dívidas soberanas. Houve saber e imaginação, para aproveitar a atratividade que o Pais oferece, potenciadora de um excecional fluxo turístico e também para contribuir para a resolução de inúmeras carências existentes. O Grande Porto acompanhou de forma reconhecida esta realidade.
A pandemia originada pela Covid-19, com o seu quê de desconhecido e inesperado, constituí uma dramática ameaça para a saúde pública e está a obrigar as economias a “desligar a ficha”, setor imobiliário incluído, com consequências e danos ainda imprevisíveis.
O tipo e natureza das respostas do Estado, o posicionamento da banca, a capacidade e adaptação do setor e o TEMPO de duração da crise, constituem varáveis fundamentais da equação que todos temos que resolver.
A resposta do Estado está a ser razoavelmente rápida, mas não profunda, em matéria de fiscalidade, de impostos, de carências nas prestações sociais, de linhas de apoio às tesourarias, de agilização de regras contratuais e jurídicas. Mas seria sobretudo relevante para o nosso sector, aproveitar-se o momento para uma simplificação da enorme carga burocrática a que está sujeito.
Por outro lado e para já, o posicionamento da banca não tem sido de obstrução à concessão de crédito, o que a manter-se, constituí uma boa notícia.
Dos vários atores do setor imobiliário, há que separar a análise por áreas de intervenção. A área comercial, está de momento praticamente parada face ao travão da procura, mas, aos poucos, está-se a verificar uma rápida adaptação em matéria de comunicação, com recurso às tecnologias digitais. A área dos serviços- projetos e gestão, conseguiu minorar danos, recorrendo de forma massiva ao teletrabalho. A área da construção propriamente dita, lá se vai aguentando, com uma travagem reduzida.
E os decisores do investimento. Como estão a reagir? Sendo o negócio imobiliário de ciclo longo, os promotores do Grande Porto estão tendencialmente a protelar de momento novos investimentos e a procurar manter as frentes existentes com um ritmo de desenvolvimento ajustado às circunstâncias. Fator positivo constitui o fato de as empresas estarem hoje mais robustas e capitalizadas, possuindo deste modo uma resiliência melhorada para ultrapassar um “ vale” longo e cavado.
Acresce ainda a circunstância de a região do Grande Porto estar menos exposta ao turismo comparativamente com outras regiões do País e, uma vez que se mantem em aberto a grande necessidade de habitação própria para a classe média, há a expectativa de que este segmento, possa contribuir de forma importante para uma estabilização rápida da atividade imobiliária.
Mas, tudo depende da variável que menos dominamos e que tem a primazia entre todas as que estão em jogo- o TEMPO. Curta duração para a crise, não deverá causar danos relevantes. Longa duração, pelo contrário, terá efeitos muito complicados e difíceis de prever.
Pela primeira vez dei comigo a ser fã das letras minúsculas face às maiúsculas, esperando muito ansiosamente, como creio que todos nós, que a crise seja associada a um v e não a um V….
O TEMPO o dirá.