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O PS, como de resto o PSD, nunca foi um partido fundado em grandes ideologias. O facto de não dispor, praticamente, de organização, antes do 25 de Abril, e de, mais tarde, ter uma corrente sindical que se definiu mais em função do posicionamento da sua congénere maioritariamente comunista, do que em razão de um projeto coerente de defesa dos interesses dos trabalhadores, fez com que a elasticidade ideológica fosse uma das imagens de marca do Partido Socialista. Uma distinção profunda relativamente ao PSOE, o seu partido-irmão espanhol, por exemplo, cujas lutas intestinas foram violentas e marcadas por fações abertamente defensoras do socialismo marxista. Mas a génese do Partido Socialista Operário Espanhol é outra. Nasceu em 1879 e esse nascimento corresponde, justamente, às transformações políticas e sociais em curso. A Revolução Industrial trouxe consigo ventos de mudança e novas classes trabalhadoras com outras exigências de representação social e laboral. Não é, pois, de estranhar, que poucos anos depois (1888) tenha sido criada a UGT, intimamente ligada ao PSOE e, como ele, muito ativa em inúmeras combates de natureza abertamente revolucionária. Não será também por acaso que só em 1979, sob a liderança de Felipe Gonzalez, o PSOE tenha abandonado as teses marxistas.
Por cá, o nosso PS só teve arroubos de discussão ideológica em 1974, no seu primeiro congresso a seguir ao 25 de Abril. Mário Soares e Manuel Serra, um político que tinha participado no golpe de Beja, terçaram armas pelo cariz mais ou menos revolucionário da via a seguir pelo partido. Soares ganhou e Serra acabou por abandonar o PS. Ainda houve a expulsão do dirigente trotskista Aires Rodrigues, a cisão protagonizada por Lopes Cardoso (que haveria de fundar a União de Esquerda para a Democracia Socialista), as saídas de António Barreto, Medeiros Ferreira e Francisco Sousa Tavares (que criariam o chamado Movimento dos Reformadores), as guerras com o ex-Secretariado e o dramático corte do relacionamento político e pessoal entre Mário Soares e Salgado Zenha. Talvez tenha sido este o momento mais pungente do PS não só pela dimensão dos protagonistas, como pelas consequências que veio a ter.
Chegados aos dias de hoje, percebe-se porque, nos últimos 20 anos, têm sido insossos os debates no interior do PS. Algumas vezes intensos, é certo, como os que decorreram entre Constâncio e Jaime Gama (1986), Jorge Sampaio e Guterres (1992), ou entre José Sócrates e Manuel Alegre (2004), mas nada que se assemelhe a esta tragédia que ameaça os alicerces do PS. Ao contrário do que sempre aconteceu, desta vez o combate não se situa no terreno seguro das personalidades em que as palavras são mais ou menos medidas e os limites perfeitamente balizados. Desta vez, foi todo o partido, da base ao topo, que se envolveu numa guerra suja, feia, cheia de ódios à solta. Desenganem-se os cínicos que veem nisto apenas um ritual de passagem para o poder, até porque o poder, nas próximas eleições, vai ser distribuído em doses moderadas. As maiorias absolutas já tiveram o seu tempo e os lugares terão que ser divididos por muita gente faminta. E de várias cores. Sem o cimento da ideologia e partido ao meio, desta vez o PS corre mesmo sérios riscos.
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