A situação aqui no Bangladesh está a aquecer. Ontem ao fim do dia o Governo anunciou a data das eleições, coisa que a oposição não queria que acontecesse enquanto não chegassem a acordo quanto à substituição deste governo por um de transição para o período pré-eleitoral. Resultado: revolta em vários pontos do país com 300 camiões a serem queimados nas estradas, desta vez parece que sem os condutores lá dentro. Hoje o secretário do Cônsul aconselhou-me a não sair do Hotel pois, segundo ele, estava perigoso andar nas ruas e muito poucos carros circulavam. Perguntei aqui se achavam que poderia ir até ao golf, que pertence ao exército e está numa parte mais calma da cidade e como acharam que não haveria problema lá fui, num destes “rickshaw” motorizados e protegidos por grades anti granada. Ontem já lá tinha estado a bater umas bolas e o “rickshaw” que me levou furou um pneu pelo caminho. Nestes casos o cliente tem que ajudar à substituição da roda pois, à falta de macaco, o condutor levanta o lado que tem a roda em baixo a pulso enquanto o passageiro coloca uma tábua por baixo da suspensão para manter a roda no ar. Não fomos tão rápidos a mudar o pneu como numa prova de todo o terreno mas quase. Só que o pneu suplente tinha uma “batata” no piso do tamanho de uma mão travessa, provocando vibrações extraordinárias e o pedido do condutor para que eu me sentasse encostado ao lado contrário.
A experiencia porque passei hoje, ao regressar do golf, foi pior. O “rickshaw” não só estava prestes a gripar, com um cheiro terrível a óleo queimado, a embraiagem a patinar e o meu banco, situado em cima do motor, a atingir temperaturas extremas, como o homem decidiu sair do golf e meter pelo sentido contrário da faixa de rodagem, numa estrada com separador central, até encontrar passagem para o outro lado. Eu ia agarrado à rede, a rezar a Alá para que não levássemos com um carro ou camião em cima, a passarem-nos razias que o triciclo até abanava. Em dia de greve, em que qualquer oportunidade é boa para passar uma trotineta daquelas a ferro não foi grande ideia. A coisa lá correu bem e regressei ao Hotel são e salvo.
Agora, farto das visitas a ministérios para reuniões sem resultados práticos, combinei com o secretário do Cônsul que ele me visitava todas as manhãs a dizer como estava a situação e depois partia sozinho para as reuniões. Até porque a zona dos ministérios parece ser das mais perigosas para se circular nestes dias de greve decretada. O processo é demorado mas está em marcha para um dia, não se sabe bem quando, receber a autorização que me permite entrar com a moto no país. Entretanto vou ter que dar um salto a Delhi, de avião, para tratar do visto para Myanmar, que não pode ser passado aqui.
Não chamo tempo perdido a estes períodos de estadias forçadas nos locais que visito, porque vou conhecendo melhor gentes e costumes mas, pelo “andar da carroça”, esta volta ao mundo vai demorar mais que o previsto inicialmente.