O acampamento base do projeto Atacama Large Millimiter Array (ALMA) – o maior radiotelescópio do mundo -, fica a 2 900 metros de altitude. A 5 050 metros, fica o planalto. A visão é assombrosa. Dizer que nos falta o ar não é figura de estilo. Ali em cima, a pressão atmosférica é metade da que se sente ao nível do mar e o oxigénio escapa-se-nos. Já nem os catos resistem. A cabeça pesa e o passo desacelera, como se estivéssemos presos numa bolha. “É impossível resolver problemas matemáticos a esta altitude”, diz o sueco Andreas Lundgren, gestor de projeto do ALMA. “Quando temos uma dúvida técnica, temos de descer ao acampamento base para encontrar a solução.”
Emolduradas pela Cordilheira dos Andes, 57 das 66 antenas parabólicas que compõem o telescópio apontam para o céu. Estas ‘orelhas’ estão prontas a escutar a radiação que nos chega do início dos tempos, traçando um retrato do que se passou logo a seguir ao Big Bang. O ar fino e a secura extrema tornam o planalto de Chajnantor (que em Kunza, dialeto local, significa ‘local de descolagem’), num dos melhores sítios do mundo para observar estrelas e galáxias. A beleza da paisagem é um bónus. Quando começou a ser pensado, na década de 90, o principal requisito para a construção do ALMA, era que fosse erguido num local sem vapor de água. E Atacama é o local do planeta mais próximo dessas condições: 1 mm é a sua média (e abaixo de 200 já se considera clima desértico). Hoje, 13 de março, dez anos depois do início da sua construção, o presidente do Chile, Sebastián Piñera, e representantes de todos os países envolvidos na sua construção – de Portugal veio o ministro da Educação e da Ciência, Nuno Crato -, inauguram o maior, e mais caro, telescópio da atualidade. América do Norte, Ásia e Europa juntaram-se para pagar a fatura de mil milhões de euros e resolver o quebra-cabeças de instalar as antenas gigantes, num ambiente altamente hostil para os humanos