Se há coisa a que qualquer atleta está habituado, viva ainda com os pais ou por sua conta, é a ver a sua fotografia numa parede ou armário de casa, tantas vezes ao lado de medalhas e trofeus conquistados em provas nacionais e internacionaios. Ao chegarem ao bloco de apartamentos da delegação portuguesa na Aldeia Olímpica de Londres, todos os atletas têm uma razão para se sentirem um bocadinho em casa: coladas nas paredes dos corredores, hall dos elevadores e salas comuns estão fotografias de todos os 75 portugueses que ganharam o direito a competir nos Jogos de 2012, na capital britânica. Como se fossem todos da mesma família.
“Queremos que, logo no primeiro momento, eles se sintam identificados com o local. E que saibam que estão no centro das nossas preocupações”, explicou-me, esta manhã, Nuno Delgado, o judoca medalhado de bronze que, em Londres, desempenha as funções de vice-chefe de missão.
Esta atenção aos pequenos pormenores levou à afixação também. na entrada para a zona dos quartos, de um painel, com cerca de três metros de comprimento, com as fotos e os nomes de todos os atletas da missão. Objectivo: obrigar a que todos se conheçam uns aos outros, que saibam os nomes uns dos outros, que, por via disso, se cumprimentem uns aos outros quando se cruzam nos corredores e nos elevadores.
Num dos andares foi ainda criada uma zona comum numa sala, com uma televisão trazida de Portugal – e com canais portugueses – recortes do que a Imprensa vai escrevendo sobre os atletas e uma instalação sonora para se ouvir música. Todas as noites, os membros da missão reúnem-se nessa sala e, durante alguns momentos, trocam ideias e experiências.
Embora possam parecer coisas pequenas e sem importância, os responsáveis da missão acreditam que este tipo de pormenores pode fazer toda a diferença numa competição como os Jogos Olímpicos, onde, tantas vezes, se pode perder ou ganhar uma medalha por coisas também aparentemente insignificantes como um centímetro ou um centésimo de segundo.
O objectivo, acreditam, é que os atletas se sintam bem, sem queixas de espécie alguma e apenas concentrados e preparados para darem o máximo no momento da competição. Afinal, como sabemos, os átomos também são coisas pequenas e invisíveis ao nosso olhar, mas quando estimulados convenientemente criam uma reação em cadeia capaz de libertar fontes incálculáveis de energia. Em Londres 2012, na “casa portuguesa”, umas simples fotos coladas nas paredes, com os nomes dos atletas, podem ser o início de uma reação em cadeia para uma explosão vitoriosa.
Para medalhas? Calma, Portugal não é uma potência nuclear. E, nesse campo, faltam-nos muito mais do que pequenos pormenores…