Uma norma que visava sancionar os militantes que pusessem em causa o “bom nome” do Bloco de Esquerda estava a causar mal estar entre as hostes bloquistas. Agora, Mariana Mortágua recua e altera a redação desta nova alínea dos estatutos, mas não deixa de apontar o dedo à oposição interna feita pela Moção E, também conhecida como Convergência.
A nova redação que irá agora a votos diz que é dever dos aderentes do BE “abster-se de conduta que prejudique o interesse público ou viole direitos fundamentais previstos na Constituição da República”.
A alteração foi apresentada na publicação do BE, Debates, na qual a direção encabeçada por Mariana Mortágua justifica esta proposta de alteração com a atitude de “um específico grupo interno” que, no entender da direção, “promoveu uma campanha mediática a propósito de uma norma aí contida”.
“Referiram-se ao Bom Nome do Partido como se dependesse da opinião pública a abertura de um iquérito interno. Essa avaliação pretendia desconhecer a proteção legal do Bom Nome, tanto de pessoas individuais como de pessoas coletivas. E que, neste caso, esta expressão visa proteger o Bloco de Esquerda de práticas ilícitas de aderentes que provoquem censura social. A expressão é banal em partidos políticos ou mesmo em associações recreativas e clubes desportivos. Chegou-se a declarar que a norma proposta visaria abrir uma “onda de expulsões”, apesar de nada permitir essa interpretação e durante os últimos quatro anos ter havido uma única exclusão de um aderente do Bloco”, lê-se no texto publicado na Debates.
Uma guerra interna
“Apesar de toda esta crítica ser instrumental para fins que não o da estabilidade legal conferida pelos Estatutos, vimos propor uma nova redação para a mesma norma, cientes de que é indesejável qualquer polémica prévia à apreciação pelo Tribunal Constitucional dos Estatutos do Bloco de Esquerda”, defende-se no texto que é subscrito por Mariana Mortágua, Adriano Campos, Joana Mortágua, Mafalda Brilhante, Isabel Pires, José Soeiro, Fabian Figueiredo, Jorge Costa, Moisés Ferreira, Catarina Martins, Pedro Filipe Soares, Luís Fazenda, José Gusmão, Miguel Cardina e Marisa Matias.
Esta não é a primeira farpa pública que a direção do partido faz à Moção E, depois de esta corrente interna ter anunciado que não iria a votos na Convenção que está marcada para os dias 31 de maio e 1 de junho. Quando foi anunciada a desfiliação de 70 militantes do BE em Portalegre, a direção emitiu um comunicado no qual afirmava que esse anúncio de saídas – das quais só 14 foram efetivadas – fazia parte de “uma ofensiva comunicacional contra o Bloco”.
Nessa mesma altura, vários destacados bloquistas atiraram a matar à Moção E. “Pensei que, quando Trump e Putin dançam em cima da Ucrânia, a lição ficaria evidente. Ou ainda há quem ache que Putin se opõe a Trump? Pois foi o momento escolhido para a corrente de Pedro Soares, que recusou a posição do Bloco a condenar a invasão, avançar para a criação de um novo partido. O sectarismo nunca aprende nada”, escreveu Louçã no Instagram. “A corrente Convergência optou por não medir-se na Convenção e sair com estrondo. A sua posição de abandono da Ucrânia à Rússia nunca venceu no Bloco e ainda bem. Sair agora é mau, sair assim não faz jus à nossa história”, partilhou Catarina Martins na mesma rede social.