Escrevo no começo da Primavera quando, depois de um Inverno frio e chuvoso, como há muito se não via, o sol começa de novo a sorrir-nos, com a luminosidade tipicamente portuguesa, deste País à beira-mar plantado…
Este último domingo foi marcado por dois eventos decisivos, que vão marcar a nossa época tão conturbada. Primeiro, fundamental, Obama conseguiu fazer passar a lei dos Serviços de Saúde, uma vitória extraordinária para a América (mais de 30 milhões de norte-americanos que não tinham acesso à Saúde passarão a tê-lo) e muito importante para o seu próprio futuro político, que assim consegue um novo impulso. Segundo, Sarkozy perdeu as eleições regionais francesas, em benefício do PS (renovado), dos Verdes e da Frente de Esquerda.
Mas também nos próximos dias há outros eventos relevantes. Que vai sair da Cimeira do Conselho de Chefes de Estado e Primeiros-Ministros que reunirá no final da semana? – é outro ponto importante dado o desentendimento franco-alemão e o futuro da União. A conflitualidade da questão palestino-israelita vai abrandar, após a intervenção de Hillary Clinton e dos outros “grandes”, entre os quais a Europa e a Rússia? O FMI vai mudar de estratégia económica, tendo em conta a crise global, como sugere o seu presidente, Dominique Strauss-Kahn? Eis algumas questões que estão na ordem do dia, mas que ainda não têm resposta. Vão tê-la, espero, proximamente.
Hoje vou falar-vos, caros leitores, da iniciativa excelente que, suponho, partiu da sociedade civil, através da internet, e foi, sensatamente, aprovada e auxiliada pelas Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia, pelo Governo, através da ministra do Ambiente, e pelo Presidente da República. Os dois últimos – bem como vários presidentes de câmaras – quiseram participar na campanha tão necessária de limpar Portugal.
Foi uma iniciativa cívica e pedagógica de grande significado e importância. É bom que se saiba, nestes tempos de desesperança, que mais de 100 mil portugueses participaram voluntária e alegremente, no sábado passado (dia chuvoso) na missão de limpar Portugal dos lixos dispersos em 11 mil pontos do País. Encontraram de tudo, em matéria de porcarias, nas cidades, junto à costa, em zonas turísticas e nas florestas: de pneus a carcaças de automóveis, a animais mortos, a restos de comida, a jornais e papéis, e até colchões empapados de água. Para além dos adultos participaram jovens e crianças, que falaram nas televisões, cheios de entusiasmo. Ficarão com esse dia marcado nas suas memórias e dificilmente, no futuro, irão prevaricar.
Quando eu era miúdo e vinha com a minha mãe à Baixa, lembro-me de ter visto, várias vezes, um homem que parecia velho, afagava as crianças e dava comida aos pombos do Rossio, mas protestava, altos berros, contra as sujidades, gritando: “Porcalhões de um Povo” – não esqueci a expressão – porque cuspiam e deitavam as pontas dos cigarros para o chão…
As lixeiras, hoje, não são só essas. As que nos entram todos os dias em casa, através das televisões e dos jornais, não são menos graves. Miguel Sousa Tavares, num artigo que escreveu, sábado, no Expresso, fala do lixo mediático e com razão. Diz: “A maior e mais real ameaça à liberdade de imprensa é o tipo de jornalismo que hoje se faz e que é ditado, primeiro do que tudo, pela necessidade de vender informação e conquistar audiências a qualquer preço.” É outro lixo que teremos de ser capazes de limpar. Como o lixo político das infâmias que se escrevem e dizem, impunemente, e sem provas, contra os adversários políticos.
Mas há outros. A lixeira moral, de que fala o Papa, Bento XVI, com coragem, mas sem ir ao fundo da questão, na Carta que escreveu à Igreja da Irlanda contra os crimes de pedofilia cometidos por sacerdotes que violaram crianças que deles dependiam…
Em conclusão: só a consciência cívica das pessoas, pela sua acção – e o respeito pelos valores éticos – nos podem ajudar a limpar a nossa terra e as nossas almas…