Na primeira pessoa: “Sou atleta de alta competição e tenho artrite reumatoide. Não quero que a doença ponha fim à minha carreira”

Na primeira pessoa: “Sou atleta de alta competição e tenho artrite reumatoide. Não quero que a doença ponha fim à minha carreira”

Comecei a praticar ginástica aos 9 anos. Sou federada em ginástica de trampolins e treino-me, desde sempre, no Grupo Sportivo de Carcavelos, o que me tem permitido participar em provas nacionais e mundiais e conhecer o mundo. Perdi a conta às medalhas que ganhei, fui campeã nacional por duas ocasiões, em trampolim, e umas quantas vezes em duplo trampolim. Ganhei uma vez o campeonato do mundo por idades, em sincronizado [com par], e tenho várias medalhas do europeu, por equipas.

Entrei no curso de Fisioterapia, em 2016, na Escola Superior de Alcoitão, e no terceiro ano da faculdade comecei a ter vários sintomas estranhos. Doía-me muito o pescoço, mas atribuía isso ao facto de estar a aprender um salto novo e de cair muitas vezes. Comecei a estranhar quando acordava de manhã já com dores, não conseguia virar a cabeça para os lados e também tinha rigidez nas mãos. O inchaço e a dor nas mãos não me permitiam fazer coisas básicas, como cortar o queijo, o pão ou vestir umas calças mais justas.

Como estava a treinar-me para participar no Campeonato do Mundo em Trampolim, na Rússia, a acontecer em novembro de 2018, procurei o médico da federação, que me medicou com anti-inflamatórios e relaxantes musculares. Nessa competição, se não me medicasse, não conseguia saltar. Confesso que tenho poucas memórias da prova em si. Ficámos em segundo e ganhámos uma medalha. No dia seguinte, acordei sem me mexer e com muitas dores.

De regresso a Portugal, decidi parar de me treinar e procurar ajuda. Tinha estado a fazer fisioterapia, mas sem resultado. Foi então que procurei um ortopedista, que me referenciou para uma consulta de reumatologia. Fui submetida a vários exames, e o diagnóstico chegou a 3 de janeiro de 2019: artrite reumatoide.

Para mim, a artrite era uma doença de pessoas mais velhas, mas não podia estar mais enganada. O médico explicou-me tudo sobre esta doença inflamatória autoimune, e a minha maior dúvida era como conseguiria continuar a praticar e a saltar. “Isso é que vai ser mais difícil”, disse. Sugeriu que a doença deveria estabilizar, o que demorou, porque eu tinha uma artrite de difícil controlo. Demorámos algum tempo até encontrarmos o tratamento mais adequado, pois, além das dores que sentia, estava anémica, muito cansada e com uma enorme incapacidade funcional. E tinha um curso para terminar…

“Estava deprimida e revoltada”

A artrite reumatoide mudou completamente a minha vida e a maneira como passei a ver o futuro. Obrigou-me a mudar os objetivos e a questionar todas as opções até ali. Não sabia como iria conseguir trabalhar na área em que me formei e como continuaria a treinar-me. Estava em negação, muito triste, deprimida, revoltada e mal-humorada.

O diagnóstico coincidiu com o início do namoro com o Bernardo, que foi um apoio essencial numa fase em que me sentia insuportável. Mas como poderia não estar? Imaginem-se a acordar com dores, a passar o dia com dores e a deitarem-se com dores. Precisava de tempo para me reencontrar. Continuo nesse caminho.

Voltei a treinar-me em 2019, para participar num campeonato distrital com o intuito de “me despedir”, mas acabei por continuar a saltar, sem quaisquer expectativas, e fui apurada para o Mundial de seniores, no Japão, em Tóquio. Voltei a parar, supostamente de vez, quando regressei a Portugal. Tinha muitas dores e era muito duro.

Terminei a licenciatura em 2020, trabalhei numa clínica e também fazia sessões ao domicílio. A vida tomou outro rumo. Em 2021, comecei um mestrado em Fisioterapia e Condições Musculoesqueléticas, que conto terminar neste ano, com o objetivo de me especializar em doenças reumáticas.

Certo dia, na pandemia, estava a acompanhar um campeonato europeu e ponderei regressar à ginástica. Mandei uma mensagem ao meu treinador de sempre – Hélder Andrade – a informar que voltaria a competir, mas mediante as minhas regras. Tinha alguma dificuldade em fazer alguns saltos, e, além da parte física, era muito exigente ao nível psicológico. O treinador concordou e, claro, a vida voltou a surpreender-me. Hoje já executo saltos que demorei seis anos sem os conseguir fazer.

Quando eu sentir que já chega, que fiz o que tinha a fazer no que respeita à ginástica de trampolins e que é o momento de passar para outra fase da minha vida, decidirei sair. Agora, acabar a carreira de ginasta lá porque uma doença me impõe tal decisão não é algo que me faça sentido. Participei numa taça do mundo, em julho de 2021, e continuo a treinar-me até hoje.

Tomo medicação diária. Durante a semana, são sete fármacos e, todas as sextas-feiras, chego aos 15 comprimidos. No total, são cerca de €100 por mês em medicação. Só dois fármacos é que são comparticipados a 100%.

Não sei se já aceitei a doença, mas escolhi procurar outros caminhos. Apesar dos dias menos bons, o facto de me envolver em associações de doentes – como a Liga Portuguesa contra as Doenças Reumáticas – permitiu-me procurar novas oportunidades e conhecer outras pessoas na mesma situação.

Criei há uns meses a página de Instagram @brigadadoreumatico, porque senti a necessidade de abordar várias doenças reumáticas segundo a evidência científica mais recente, para fisioterapeutas e pessoas com doença. Gostaria de passar a ideia de que a fisioterapia é uma opção segura, mas é importante escolher profissionais que saibam o que estão a fazer. Recebo mensagens com questões e estou sempre disponível para ajudar.

Atualmente, treino cinco a seis vezes por semana, durante duas horas e meia, e faço caminhadas, corrida ou ginásio, quando tenho tempo. No futuro, além de voltar a trabalhar em fisioterapia, gostava de dar aulas na faculdade e de dedicar-me à área das doenças reumáticas. Fazer a diferença!

Estou a poucos dias de entregar a minha tese de mestrado e, entre 6 e 13 de novembro, vou estar em Inglaterra para participar num Campeonato do Mundo, com competição individual e sincronizada com a Catarina, o meu par. A doença está estável, e eu tenho aprendido a viver com ela.

Depoimento recolhido por Cláudia Pinto

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