Vila Nova de Gaia, Porto, 03 Abr (Lusa) – Cerca de meia centena de populares manifestou hoje o seu apoio a Pinto da Costa, depois do presidente do FC Porto ter sido ilibado no chamado “caso do envelope”, extraído do processo de corrupção no futebol Apito Dourado.
“Vitória, vitória, vitória” foi o grito de ordem dos populares que rodearam o carro do presidente portista, que, ao contrário das várias sessões do julgamento, abandonou o Tribunal de Vila Nova de Gaia pela porta da frente.
Pinto da Costa, o empresário António Araújo e o árbitro Augusto Duarte foram os três arguidos do processo e foram todos absolvidos. Os dois primeiros estavam pronunciados pelo crime de corrupção desportiva activa, enquanto ao “juiz” de Braga era imputado o crime de corrupção desportiva passiva.
Na leitura da sentença proferida hoje, a juíza Catarina Ribeiro de Almeida disse não ter ficado provado que durante o encontro entre os três, dois dias antes do jogo Beira-Mar-FC Porto, da 31ª jornada da Liga de 2003/04, Pinto da Costa tenha dado um envelope com 2.500 euros ao árbitro Augusto Duarte para que esse beneficiasse a equipa portista no jogo.
Também não ficou também provado que a actuação de Augusto Duarte, durante o jogo, tenha favorecido a equipa portista, apesar de não ter cumprido com todas as leis do jogo.
Na leitura da sentença, Catarina Ribeiro de Almeida explicou que os peritos ouvidos durante o julgamento apontaram quatro erros na equipa de arbitragem, três dos quais imputados ao árbitro Augusto Duarte.
Dos três erros, dois foram favoráveis ao FC Porto e um foi favorável ao Beira-Mar.
Ainda assim, a arbitragem foi considerada “normal”, sendo a única “anormalidade a não expulsão de um jogador do FC Porto aos 15 minutos”, mas não se provando qualquer relação do sucedido com o resultado final.
O jogo terminou num empate 0-0, resultado “que servia o FC Porto”, porque, foi explicado em julgamento, “para vencer aquele campeonato, a equipa portista precisava de vencer dois jogos e empatar outro”.
Mas, não se provou que “para que o FC Porto terminasse o campeonato em primeiro lugar, precisasse de pressões feitas pelo presidente”.
Sobre Carolina Salgado, cujas declarações estiveram na origem do processo, o tribunal considerou que a ex-companheira de Pinto da Costa prestou “depoimentos divergentes” e que, pelas “contradições e incoerências”, não tem “qualquer credibilidade”.
Ainda segundo a juíza, o testemunho de Carolina Salgado terá sido “norteado pelo interesse da condenação de Pinto da Costa”.
Não tendo sido validado o testemunho da antiga companheira do dirigente “azul e branco”, não restavam mais indícios do que realmente sucedeu na noite de 16 de Abril de 2004 em casa de Pinto da Costa.
Por esse motivo, o tribunal aplicou o princípio da presunção de inocência, “in dúbio pró réu” e absolveu os três arguidos.
“Não vemos como se pode concluir que o árbitro tenha violado intencionalmente as leis do jogo com vista ao benefício do FC Porto”, concluiu.
Em causa estava um alegado suborno de 2.500 euros, dados por Pinto da Costa ao árbitro da partida Beira-Mar-FC Porto, da 31ª jornada da Liga de 2003/04.
O processo, que começou a ser julgado no dia 03 de Março, ficou marcado por diversas peripécias envolvendo a gémeas Carolina e Ana Maria Salgado: a primeira foi vítima de insultos e tentativa de agressão e a segunda declarou à imprensa que foi paga para mentir.
O processo é um apêndice do megaprocesso “Apito Dourado” e tem como génese casos de alegada corrupção e tráfico de influências no futebol profissional e na arbitragem portuguesa.
O julgamento terminou precisamente um mês após o seu início e pouco mais de um ano depois da juíza Anabela Tenreiro, do Tribunal de Instrução Criminal (TIC) do Porto, ter decidido, num despacho de 50 páginas, que o caso iria mesmo à barra judicial.
LYL/RBA.
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