“Qual é o limite?”, questionava-se Paula Parisot minutos antes de iniciar a promoção do seu segundo livro, Gonzos e parafusos, uma edição Leya Brasil. Não se pense, contudo, que se tratava da costumeira ronda de entrevistas e autógrafos, que percorre um país em ameno convívio com os leitores. Nada disso. Tudo mais radical. Por sua livre vontade, a escritora brasileira fechou-se num apertado e transparente cubículo de três por quatro metros, colocado no meio da Livraria Vila da Fradique, em São Paulo. Isso mesmo: sete dias e sete noites, entre 11 e 18 de Março. Tempo suficiente para encarnar a protagonista do seu romance, a baronesa Elisabeth Bachofen-Echt, que ficou celebrizada numa pintura de Gustav Klimt. Personagem e criadora confundem-se, porque confundidos já estavam quando a autora decidiu escrever este livro. A escrita, como no caso de Hélia Correia (ver pp 10-16), fez-se pela identificação.
Está bom de ver que foi grande a polémica à volta desta performance (documentada no site www.leya.com.br/gonzoseparafusos). Na imprensa, nos blogues e no bate-boca dos cafés, falou-se em golpe de génio e em golpe publicitário. Mas entre o vouyerismo literário e o sentido de oportunidade, Paula Parisot filia-se naquela genealogia de artistas, que inclui os patronos Joseph Bueys e Tehching Hsieh, que faz de cada criação um acto transformador. Porque o único limite parece ser apenas este: aceitar que a maior obra de arte é a nossa própria vida. E que com ela, ficcionando ou mergulhando na contínua performance, podemos mudar o que nos rodeia e o que somos. Sem convenções, nem postulados. Vivendo os nossos desejos e obsessões.