São os primeiros a saltar dos navios e têm uma habilidade extrema de se refugiarem, em sítios inóspitos, nos confins do solo, no esgoto, à espera do seu momento. Depois do apocalipse sobrarão apenas os ratos, tal como Gunter Grass descreveu na ratazana. Ratos, os animais, claro, os dos nossos computadores estão à beira da extinção. E as gerações futuras vão perguntar-se como nós segurávamos em ratos sem qualquer tipo de nojo. A tecnologia passa e os animais persistem.
Lembro-me bem de quando os ratos de computador apareceram houve quem gritasse de enervação. Ferramenta prática mas estranha, exigia alguma perícia, difícil para quem não jogou ZX Spectrum na infância. Acabaram por se tornar o melhor amigo do infoincluído, deixando o teclado a roer de inveja. O rato serviu, numa primeira instância, para nos libertar do teclado. Até lá tudo se fazia através de atalhos de teclas. Agora o teclado serve essencialmente para escrever. E a linguagem virtual passou a ser mais visual do que escrita.
Pois, mas o teclado persiste (ainda que possa adquirir uma forma digital) e o rato – tal como aconteceu com a drive de disquetes e está acontecer com CD e pens – vai-se extinguir. A primeira machada foi dada pelos tabletes e laptops com tecnologia screan touch. O rato são os nossos dedos e de nada mais precisamos. O fim da espécie será ditado pela expansão e democratização do Leap Motion. Trata-se de uma tecnologia já muito usada nas consolas de jogos e difundida na ficção científica. Uma microcâmara (custa cerca de 100 euros) deteta e responde aos movimentos. Em vez de mexermos num rato ou tocarmos em ecrã, poderemos tocar num espaço tridimensional. E assim interagir.
Tal não servirá apenas para jogos de computador (onde podemos dar chutos no espaço ou agarrar um volante inexistente), mas também para o uso corrente dos computadores. Poder-lhe-ão chamar gato, tigre ou leão. Mas seremos sempre nós próprios.