Bom dia!”, diz um. “Já começas?!”, responde o outro. É o cúmulo do casal desavindo. O ponto de saturação é tal que todas as palavras são facas, mesmo a mais inocente saudação matinal. Mas se é verdade que o diálogo serve de anedota, diga-se também que se imaginam situações em que um “Bom dia!” pode ser mais ofensivo que um “vai bugiar!”, e outras em que “vai bugiar” pode ser dito com a máxima ternura. Tudo depende do tom e da circunstância.
Os políticos sabem que a ironia deve ser usada com precaução, sobretudo porque é uma arma que facilmente se vira contra o próprio. As multidões têm a tendência em levar as coisas à letra. Se um político diz “sim, sim e eles fizeram um grande trabalho”, algumas pessoas vão pensar que ele está efetivamente a elogiar o desempenho do governo anterior. Se um orador disser “Pois, pois… e eu sou o Rei de Inglaterra” corre o perigo de alguém na audiência achar que ele é realmente o Rei de Inglaterra (ou pelo menos um maluquinho que se julga o Rei de Inglaterra). A ironia é altamente desaconselhável em grupos, quanto mais não seja porque há sempre alguém que não percebe e depois dá imenso trabalho explicar que era uma piada.
Mas enquanto a comunicação é oral a coisa ainda vai que não vai. Por escrito, mais ainda nas conversas rápidas dos sms e dos chats, facilmente se dá o descalabro. Sobretudo porque falta o tom de voz, e o tom de escrita é bastante mais difícil de apreender (pior ainda se não se conhece o outro).
As redes sociais, as trocas rápidas de e-mails, os sms são o reino dos equívocos. É por isso que, espontaneamente, as pessoas se habituaram a conversar por estes meios com pinças, como se estivessem sempre a dizer “olha que é uma piada, sem ofensa, não leves a mal”. São os indicadores de tom: os smiles, os lol, ao ahahahaha. Caso contrário é um caos e não conseguimos distinguir um fascista de um comunista compulsivamente irónico. Estava brincar, não leves mal, ahahaha, lol, :), vai bugiar.