Gaiatos em telhado de zinco quente
Aquilo distinguia os homens dos putos. Separava as alturas.Quem conseguia subir para o telhado da escola estava acima de todos os outros. E eu só a custo de muitos joelhos esfolados o consegui. Tentei muitas vezes, depois das aulas, durante as aulas, escondido da contínua Alberta e do porteiro João, até alcançar o topo da minha juventude. Com um pé firme na caixa de electricidade e uma mão suada no tubo de esgoto, todo o acto de ascensão escancarado num impulso de ancas no vazio do ar. A ânsia de aterrar no céu. O telhado da escola era o céu. Era de zinco e era quente. E lá de cima todos pareciam mais pequenos do eram na realidade. Os que nunca tentaram e os que nunca conseguiram lá chegar, mas que levariam toda a vida a tentar emendar a distância. Nunca de lá caí, apesar das vertigens, mas também não subi mais alto do que isso. As marcas nos joelhos, essas, ainda as tenho para me recordar dos tempos elevados.