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Lembram-se da Amanda? Os olhos pintados de negro sobre as olheiras, como se a tristeza fosse um vestido que se usa por cima da roupa ou uma questão de estilo. Nunca mais fizemos amor ao som de The Mercy Seat, de Nick Cave & the Bad Seeds. Ou talvez apenas mais uma ou duas vezes. Para não destruir o mito pela recorrência. No entanto, continuámos juntos. Dêmo-nos bem. Eu mantive-me fiel a Nick Cave, mas aos poucos fui tolerando os Sisters of Mercy, como um curioso subproduto. Ela nunca abandonou os Sisters, mas aceitou a casa forrada a posters do semideus, o dinheiro despendido em edições raras, a moldura envidraçada que guardava a primeira edição do álbum dos Boys Next Door.
Quando soube que o Nick Cave vinha a Portugal não perdi tempo. Fiz uma vigília à entrada do Coliseu quando os ingressos foram postos à venda, de forma a assegurar que o nº 1 e nº 2 me pertenceriam. Obviamente assistimos ao concerto na primeira fila ansiando que ele generosamente se dignasse a passar os dedos suados pelas mãos do seu súbdito público. Cave ali estava, com os pés a pouco mais de um palmo do nosso nariz, no seu estilo de galã demodè. Baseou quase todo o concerto no seu último disco, mas no encore, para nosso máximo delírio, cantou furiosamente The Mercy Seat, gritando I’m Not Affraid to Die. Um êxtase tal que, por instantes, quase desfaleci ao colo da doce e soturna Amanda.
No final, enquanto outros ingénuos admiradores abarrotaram a porta dos artistas do Coliseu, eu e a Amanda avançámos logo para a recepção do Hotel Ritz. Soube através do Nico, que na altura trabalhava como roadie, que era ali que o grande génio iria pernoitar. Um homem de boné e casaco de soldadinho de chumbo interpôs-se no nosso caminho e barrou-nos a entrada. No entanto, não nos dissuadiu do nosso desígnio superior. Mantivemo-nos ali, ao frio, durante mais de duas horas, à espera da chegada do semideus. Nós e outros três marmanjos que tiveram a mesma ideia. Todos da margem Sul, com casaco de cabedal e cabelo escorrido de sujo. Ansiávamos por um toque, uma troca de palavras, um olhar cruzado.
Ele apareceu em estilo vedeta, tapando a cara com a gabardina, refugiando-se dos flashs que os marmanjos insistiam em disparar. Três homens grandes impediam qualquer contacto. E ele nem sequer nos sorriu. Até que, já a salvo daquela multidão de cinco pessoas, no átrio do hotel, deitou um olhar lascivo e complacente sobre nós que o esperávamos e descoordenadamente gritávamos pelo seu nome. Segredou algumas palavras ao ouvido de um dos homens grandes. Este aproximou-se e, perante os nossos olhos pestanejantes de impaciência, anunciou:
– A rapariga pode subir.
Amanda não voltou para casa na manhã seguinte.