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À primeira vista a banda desenhada de Joann Sfar na série O gato do rabino (ASA) engana pela simplicidade. O traço parece inacabado e frágil, mas no sentido utilitário, não necessariamente pensado enquanto ferramenta poética (como em Lorenzo Mattotti). Não há um conceito de página como um todo, repetem-se unidades de seis vinhetas com igual tamanho (três filas de dois desenhos cada), dando ideia que poderiam ser remontadas das mais diversas maneiras. É uma escolha consciente: está em causa a legibilidade, o desenho enquanto receptáculo. Em O gato do rabino mais importante é A Palavra. Não só ao nível do argumento propriamente dito, mas porque a série utiliza como fulcro a interpretação de leis e textos religiosos. O facto de Sfar conseguir transformar discussões (aparentemente) esotéricas ilustradas com um traço funcional numa banda desenhada espantosa mostra bem porque é um dos melhores autores contemporâneos, que tem tudo para atrair leitores de todos os quadrantes.
O poder de O gato do rabino está, não só na falsa aparência de singeleza, mas nos múltiplos elementos e camadas. Inspirada pela história familiar do autor a série tem esse elemento nostálgico, sendo passada sobretudo na Argélia ainda sob domínio francês. Há uma dupla sensação de distância: no sentido histórico, e enquanto afastamento de uma metrópole quase desconhecida. O ambiente político envolvendo, por um lado, a situação colonial e, por outro, o enquadramento das minorias judias (a da família Sfar) e cristãs face à maioria muçulmana surge como foco contínuo de tensão, sendo detectáveis movimentos embrionários como o sionismo ou o nacionalismo independentista árabe, para além do (já histórico) antissemitismo (quer local, quer testemunhado, por exemplo, na Rússia pós-Revolução comunista) ou do inevitável racismo disparando em todas as direções. E ainda o papel das mulheres. É nessa perspetiva que são introduzidas, por vezes com grande pormenor, discussões de cariz religioso, e de como podem (ou não) justificar diferentes posições sociopolíticas e culturais. A preponderância é para leis e textos judaicos (Tora, Talmude, Cabala) debatidos por rabinos sempre prontos a discordar uns dos outros, mas há igualmente uma polinização cruzada com a Bíblia e o Corão. África enquanto terra de exotismo aventureiro e refúgio das mais diversas e excêntricas personalidades é um outro motivo reconhecível na série, onde se notam ainda constantes citações. A mais óbvia encontra-se na segunda história deste álbum duplo (reunindo os volumes 4 e 5 da série, numa excelente iniciativa da ASA), uma dura crítica a “Tintin no Congo”, usando com simplicidade a obra de Hergé contra si mesma. Por último temos a componente de fábula, desde logo corporizada no gato-narrador que dá nome à série, e que comunica (por vezes) com (alguns) humanos, mas sempre com outros animais, funcionando a sua antropomorfização como pontuação/contraponto das narrativas humanas. O papel equívoco da serpente em O paraíso terrestre é particularmente brilhante.
A riqueza e diversidade de O gato do rabino neutraliza um pouco os elementos mais pesados do argumento, com Sfar a conseguir passar uma mensagem de tolerância inteligente, lúcida e crítica recorrendo a diferentes estratégias, embora por vezes a sua urgência possa ser quase contra-produtiva quando sente a necessidade de forçar alegorias (como em Jerusalém de África). Mas, e aqui se fecha um pouco o círculo, o texto tem uma intensidade cuja estridência é esbatida pelo estilo gráfico, resultando num todo que é claramente indissociável. A grande banda desenhada é isto.
O gato do rabino, volumes 4 e 5: O paraíso terrestre/Jerusalém de África. Argumento e desenhos de Joann Sfar. ASA; 136 pp., 21,90 Euros.