A sexta edição do JL (12 a 25 de maio de 1981) foi a primeira cuja capa não tinha, a toda a largura e três quartos da altura, sob o logotipo e ‘cabeçalho’, o respetivo número em (re)criação de João Abel Manta. Mas a capa continuou a ser da autoria do grande artista, um belo retrato da figura em destaque na edição, tendo sob ele, como sob os anteriores números, as “chamadas” para as principais matérias. E o retrato é de José Gomes Ferreira – o “poeta militante” então talvez ainda no auge da sua fama, muito considerado um dos principais nomes da poesia da época e cuja obra, logo após o 25 de Abril, teve assinalável repercussão.
O texto sobre o “Zé Gomes”, como os amigos o tratavam, é de Fernando Assis Pacheco, com a sua inconfundível marca – e é também uma entrevista, embora não em pergunta e resposta. Além dele, apenas dois poemas inéditos, acabados de escrever, pois são de 20 e 24 de abril de 1981. Leia-se um deles, intitulado “Ardil”, para ver a sua “frescura”, tinha o autor 81 anos: “Nesta mesa/ desenhada pelo Keil/ onde como e bebo/ – ou melhor, bebia -/ e às vezes concebo/ o que se assemelhe/ com a poesia…// … nesta mesa,/ à luz acesa de um candeeiro de pé alto,/ sinto agora o sobressalto/ de quem ouve fundamente/ trovões diversos/ dos que dantes ouvia/ e hoje ninguém sente./ Talvez escreva versos/ com outra poesia.// (Enfim, estratagemas/ para fingir poemas…)”.
Mas este nº 6 começa com um texto (quase) inédito do grande historiador Jaime Cortesão, apresentado e comentado por Luiz Francisco Rebello, três páginas (com a crónica de Maria Velho da Costa), logo seguidas por outra com uma carta inédita de Mário de Sá-Carneiro, esta anotada por Arnaldo Saraiva. E um pouco mais à frente, pp. 14/15, um excelente ensaio sobre “Economia e Ecologia”, quando falar desta ainda era raro, da autoria de Henrique de Barros, o muito prestigioso prof. e democrata, que além do mais foi presidente da Assembleia Constituinte e nº 2 do 1º governo Constitucional, chefiado por Mário Soares.
Ensaio também, mas literário, é o de Eduardo Prado Coelho sobre Sedução, de José Marmelo e Silva: Eduardo, colaborador muito importante e interventivo nos primeiros anos do JL, que escreve também um texto de página inteira sobre o filme Oxalá, de António-Pedro Vasconcelos – além de ser com o Assis, como já aqui referi, o principal redator do excelente “o guarda-livros”, exemplo de lapidares recensões, não assinadas, de obras recém saídas (neste caso as duas primeiras são O triunfo da morte, do Augusto Abelaira, e Secos e Molhados, do Jorge Listopad). E em matéria de crítica literária, ensaística, destaque ainda para a do Vasco Graça Moura a um livro de António Osório, ‘complementada’ com um poema inédito de Osório, e do João Rui de Sousa sobre o Luís Amaro. Ainda ensaio, longo, o de José Gabriel Pereira Bastos sobre arte e psicanálise.
Outros textos a destacar, para além dos assinados pelos cronistas permanentes e os da área crítica: de Sottomayor Cardia (já não ministro da Educação) sobre “a ideia de Filosofia”; de Teresa Santa Clara Gomes, e de Ana Luísa Janeiro, sobre Teilhard de Chardin; de Almeida Faria sobre um Encontro Luso-Sueco de Escritores, e de Bengt Holmkvist sobre a poesia sueca, traduzido pela Ana Haterly, com poemas traduzidos pelo Alberto Pimenta; de Rogério Rodrigues sobre José Rodrigues Miguéis; de João de Freitas Branco sobre “Vasco Gonçalves e a tertúlia da Arte Musical”. Enfim, no Debate- Papo, Ferreira de Castro e Fernando Namora na ‘visão’ de Jorge Amado. Tanto… – e mais sete retratos e duas ilustrações de João Abel Manta!