A sala estava ainda a compor-se quando a diretora da VISÃO deu início ao primeiro debate do festival. Mafalda Anjos dava as boas-vindas aos convidados enquanto as pessoas iam procurando sítio para assistir a uma conversa que duraria mais de uma hora e onde se falaria de jornalismo, de fake news e de futuro. O novo diretor do Diário de Notícias, Ferreira Fernandes, foi o primeiro a intervir. A plateia estava em silêncio, à espera das primeiras palavras, que foram dedicadas ao jornalismo português. “Temos de torná-lo interessante, fazendo jornais que deem às pessoas o prazer de os ler”. Para isso, não se pode esquecer “trazer as pessoas para as páginas dos jornais”, contando as suas histórias.
Se é certo que é necessário habituar as pessoas a pagar pela informação que recebem, também não se pode ignorar aqueles os que não querem pagar. “Como se pode informar quem não está disposto a pagar?”. Quem levantou a questão, considerando-a central, foi o autor e produtor Nuno Artur Silva. “Não há uma solução: há muitas.” No entanto, há algo que considera indispensável para garantir a qualidade da informação: o serviço público. “No público existem duas missões: regulação e obrigação de dar o que os privados não querem dar”. Dois desígnios que são, no entender de Nuno Artur Silva, essenciais para garantir jornalismo de qualidade e para fazer a triagem entra a informação que é relevante e aquela que não o é.
A questão que dominou a parte inicial do debate prendeu-se com os modelos de negócios existentes hoje em dia e a sua adequação às necessidades dos leitores, ouvintes e espetadores. Algo a que o jornalista e facebooker Miguel C. Somsen tentou responder com uma frase forte: “as pessoas continuarão a comprar os jornais se puderem ler as histórias que lhes interessam.” A dificuldade encontra-se, por isso, em entender “o que interessa às pessoas” não deixando de contar o que merece ser contado.
O diretor do Observador, Miguel Pinheiro, apresentou-se como um dos mais otimistas. Reconhecendo que “a voracidade de informação” que existe hoje pode ajudar a aumentar a existência de fake news, o jornalista quis ressalvar as vantagens que as redes sociais e o digital trouxeram. “Como em todo o lado, nas redes sociais existe bom trabalho e mau trabalho”, começou por dizer. “E se é verdade que há muita porcaria nas redes também é certo que a mentira sempre deu a volta ao mundo mais rápido que a verdade.” Tentando não desvalorizar a importância que “as fake news têm atualmente”, Miguel Pinheiro preocupou-se sempre por ter um olhar mais positivo sobre o digital, contrariando a sua diabolização. “As redes sociais ajudam a fazer bom jornalismo se forem bem usadas.”
Algo com que Ricardo Araújo Pereira concordou. Mas não é isso que incomoda o humorista que se recusa a ter redes sociais. O problema reside na “tecnofilia que parece existir nos media tradicionais.” Atualmente, nas redes sociais “a indignação ao discurso sobre a realidade” é maior do que “a indignação sobre a própria realidade.” Uma duplicidade de reações que, para Ricardo Araújo Pereira, pode vir a contaminar as redações de forma prejudicial. “Muitas vezes vemos notícias sobre um tema que incendeia as redes sociais, mas às vezes o que incendeia as redes sociais incendeia mal.”
No fim, a esperança foi dada pelo jornalista mais experiente no palco: “a necessidade de jornalismo tem de existir sempre.” Nuno Artur Silva concordou, assim como os restantes intervenientes que anuíam leve mas convictamente, e aproveitou a deixa para avisar que “o jornalismo será, no futuro, mais necessário do que nunca.” Os desafios levantados pelas fake news e pelo digital vieram para ficar. Mas a solução, segundo Ferreira Fernandes, pode estar naquilo que é a base do jornalismo: “ir, voltar e contar.”
VISÃO Fest
A VISÃO COMEMORA OS SEUS 25 ANOS DE EXISTÊNCIA NO CAPITÓLIO, ESTE FIM DE SEMANA. DEBATES, DUELOS CRIATIVOS, CONCERTOS, WORKSHOPS E ATIVIDADES QUE VÃO ANIMAR O CAPITÓLIO E TRAZER ATÉ SI A VISÃO AO VIVO NOS DIAS 21 E 22 DE ABRIL. A ENTRADA É LIVRE