Nem pandemia, nem teletrabalho, nem inflação. Os fantasmas que assolaram o mercado imobiliário comercial em 2021 mal se fizeram sentir em 2022. O turismo regressou em força (com impacto direto no segmento hoteleiro), as empresas arrendaram mais área do que nunca (apesar do trabalho remoto que se implementou em muitas organizações) e setores como o industrial e logística, habitualmente monótonos, registaram uma grande dinâmica.
O balanço é da consultora Cushman&Wakefield (CW), que na sua já tradicional conferência de Ano Novo, fez contas e apurou um volume de €3 mil milhões em transações de investimento imobiliário de rendimento em 2022, um expressivo aumento homólogo próximo dos 39%.
“Há um ano atrás, as expetativas relativamente a 2022 eram altas: a pandemia estava controlada e a vida e as economias tinham regressado a alguma normalidade, quando em fevereiro se deu a invasão da Ucrânia. Daí resultaram não só uma tragédia humana e uma destruição de um país sem precedentes como, em termos globais, para além de apreensão e incerteza, um enquadramento de altíssima inflação e de subida galopante das taxas de juro”, lembrou Eric van Leuven, diretor-geral da Cushman & Wakefield em Portugal, acrescentando que, ainda assim, “o mercado português manteve-se muito ativo até final do ano, com o volume de investimento institucional próximo de anteriores anos-record, e o nível de absorção de escritórios mais alto de sempre”.

Em termos de captação de investimento imobiliário, o destaque vai para a hotelaria, um dos setores mais dinâmicos que agregou 30% do total investido em Portugal e o segmento dos escritórios, responsável por cerca de 27% do total, com €770 milhões.
No top das maiores operações de investimento comercial surge a aquisição pelos americanos da DK do portfolio Crow à ECS Capital por cerca de 850 milhões de euros. O portfólio, recorde-se, é composto por uma carteira de hotéis de luxo, que inclui, entre outros, o Conrad Algarve, o Cascatas Golf & Resort Spa da Hilton e o Grupo NAU. Os fundos da ECS Capital (criados há quase duas décadas por Fernando Esmeraldo e António de Sousa) estavam agora nas mãos Caixa Geral de Depósitos, BCP, Novo Banco, Santander Portugal e Oitante (ex-Banif).
Entre as três maiores transações de investimento comercial está ainda a que foi protagonizada pela Sonae Sierra e o Bankinter que adquiriram o edifício Atrium Saldanha ao Grupo Fibeira, por €205 milhões e a compra pela Blackstone do portfólio Connect ao Novo Banco por 208 milhões de euros.
O mercado dos chamados ativos alternativos levou tempo a descolar em Portugal mas já movimenta milhões – a meio do ano passado ficaria fechada a venda da rede de espaços de coliving e residências de estudantes Smart Studios (fundada por Ricardo Kendall ecom mais de 2.000 apartamentos), ao grupo britânico de investimento Round Hill Capital. Valor da transação – 200 milhões de euros.
Em seguida surge a aquisição pelo Grupo Castel à Explorer de um portfolio de três edifícios de escritórios localizados em Lisboa por um valor entre os €110 e 120 milhões e ainda a operação protagonizada pela espanhola Merlin Properties que adquiriu a antiga e emblemática sede do Novo Banco (que entretanto criou a sua mini-cidade no Tagus Park) na Avenida da Liberdade, por €112 milhões.

A Cushman&Wakefield destaca ainda no seu balanço a aquisição do Pestana Blue Alvor Hotel pela Azora ao Grupo Pestana por um valor entre os 75 e os 85 milhões de euros.
Assim, por setor, à Hotelaria (que absorve 30% do total de investimento) e os Escritórios (com 27%), segue-se o mercado industrial e logística com 21%, os Ativos Alternativos com 12% e o Retalho com 9% (onde pesa a aquisição pela Union Investment do hipermercado Continente no Centro Colombo, uma operação intermediada pela CW).
Em termos globais, o capital estrangeiro representou 76% dos cerca de três mil milhões de euros investidos no mercado imobiliário comercial português.