Que importância tem o imobiliário para as famílias portuguesas? Há ou não riscos de se estar a entrar numa bolha imobiliária? Qual o impacto da proibição de registos de alojamento local em Lisboa? E que futuro existe para o mercado de arrendamento de longo curso? Questões primordiais que têm marcado de forma vincada a evolução do mercado imobiliário português nos últimos anos e que a Fundação Francisco Manuel dos Santos tentou esclarecer ao lançar o estudo “O Mercado Imobiliário em Portugal”. Uma análise de várias dimensões, assegurada por uma larga equipa com nomes como Vera Gouveia Barros ou Luís Aguiar-Conraria, entre outros. O trabalho foi coordenado pelo economista Paulo M. M. Rodrigues, que respondeu via email às questões da VISÃO.
A habitação própria permanente cresceu de 45,1% para 73,2% e o arrendamento caiu de forma acentuada, de 48% para 19,9%, entre 1960 e 2011, refere o estudo. Estamos num ponto sem retorno no que diz respeito ao mercado de arrendamento?
Em Portugal, tradicionalmente, a compra de casa própria tem sido um fenómeno, diria, cultural, seja por ser um investimento seguro ou pelo argumento de “em vez de pagar uma renda a um senhorio, pago ao banco e ao fim de alguns anos a propriedade é minha”, ou por outra razão qualquer. A compra de casa própria tem sido sempre encarada pelas famílias como um objetivo importante. Julgo, no entanto, que com as novas gerações possamos estar a assistir a uma alteração de comportamentos, dada a maior ênfase que se começa a dar à mobilidade laboral. Por outro lado, é importante dar uma maior atenção ao mercado de arrendamento, criar incentivos e mecanismos de segurança, quer para o senhorio quer para o arrendatário. Estes mecanismos irão incentivar e fazer aumentar o investimento em imobiliário para arrendamento. Sem um aumento de oferta e incentivos de apoio ao arrendamento (a ambas as partes – senhorios e arrendatários), julgo que este segmento poderá continuar a não ter a dinâmica desejada.