A pandemia baralhou, de forma profunda, as dinâmicas a que o mercado imobiliário estava habituado. Imóveis habitualmente menos vendidos, como é o caso dos terrenos, passaram a ter uma inesperada procura e localizações consideradas menos interessantes para investir tornaram-se subitamente irresistíveis, como é o caso das zonas do interior.
Um estudo da plataforma Imovirtual a que a Visão teve acesso dá precisamente conta das tendências do mercado em 2021 sendo que boa parte delas resultam da consolidação de um movimento que começou quando a Covid-19 se instalou nas nossas vidas.
A mais surpreendente, porventura, assenta no aumento significativo da procura de casas nas zonas do interior do país criando a esperança de um certo movimento de repovoamento há muito desejado.
Diz a análise da Imovirtual que o interior do país registou em 2021 “um crescimento da procura de casa de +51% face a 2019 e de +14% face a 2020, o que revela maior interesse nestas localizações”.
Guarda (+139%), Beja (+123%) e Portalegre (+112%) são as cidades intermédias com maior aumento da procura face a 2019. Bragança (+103%), Viana do Castelo (+99%), Viseu (+99%), Vila Real (+99%) e Évora (+87%) demonstram também aumentos relevantes da procura de casa face a 2019.
Em contrapartida, em Lisboa, registou-se uma diminuição de 37% no número de pesquisas da procura de casa em 2021 face a 2019 e no Porto uma redução de 33% no mesmo período.
“Lisboa e Porto continuam a ser os principais mercados de Portugal mas a verdade é que registou-se uma quebra acentuada da procura durante o ano passado. Por um lado a oferta de imóveis diminuiu e aquilo que as pessoas encontram disponível nestas zonas não lhes desperta muito interesse e, por outro lado, a pandemia e, consequentemente o trabalho remoto levaram muitos a olhar para outro tipo de localizações, mais distantes das grandes cidades”, diz Ricardo Feferbaum, CEO do Imovirtual, plataforma que recebe entre seis a oito milhões de visitas por mês.
“As taxas de juro mais baixas estimularam a procura e esta fez reduzir a oferta disponível. E esta redução da oferta é um fenómeno que se verifica em todo o país”, lembrou ainda o responsável.
Implícita nesta movimentação para zonas mais campestres está também a imensa vontade de ter mais espaço dentro e fora de portas, expectativas que acabam por se encaixar como uma luva numa tipologia que passou a estar em alta – a moradia.
Em 2021, em comparação com 2019, ocorreu um aumento significativo da procura por terrenos (+42%), quintas e herdades (+28%) e moradias (+15), “categorias que já em 2020 tinham registado aumentos exponenciais na procura, refere o relatório, que realça “que depois do grande crescimento em 2020 destas categorias, as tendências estabilizaram em 2021”.
As cidades que registaram maior aumento de procura de moradias face a 2019 são, de acordo com o barómetro anual, “as que registam preços mais baratos (Guarda, Portalegre e também Beja têm preços mais acessíveis)”.
Atualmente, as casas querem-se também maiores, sejam estas apartamentos ou moradias. “Ao contrário de 2019 e 2020, anos em que havia maior procura por T2, em 2021 há agora maior procura por T3. Em último lugar dos três anos surge a procura por T1”, diz o estudo.
Menos estrangeiros
O balanço de atividade da Imovirtual trouxe também novidades no perfil dos potenciais compradores de casas. “A faixa etária entre os 34 e os 54 anos continua a ser aquela que concentra o maior número de utilizadores mas a pandemia levou a que um número crescente de pessoas mais novas tenha mudado o seu comportamento e agora deseje comprar uma casa”, realçou o CEO da Imovirtual, acrescentando que “a pandemia também alterou o comportamento das pessoas mais velhas, levando-as a repensar e a reajustar a sua vida e, logo, também a sua habitação”.
Assim, “face a 2019, ano pré-pandemia, há em 2021 um crescimento significativo de utilizadores dos 18-24 anos (+135%) e acima dos 65 anos (+130%)”, refere-se no estudo, destacando que “a procura de casa na faixa etária dos 18-24 anos estabilizou em 2021 face a 2020, mas acima dos 65 anos foi a que mais aumentou (+29%)”.
Sem surpresas, quando a análise incide sobre os utilizadores estrangeiros constata-se que a pandemia teve um impacto significativo no seu interesse pelo imobiliário em Portugal devido às restrições de circulação implícitas durante este período. “O número de utilizadores estrangeiros a procurar casa em Portugal diminuiu progressivamente nos últimos 3 anos: 23% em 2019 / 16,5% em 2020 / 16% em 2021”, descreve-se no relatório.
Brasil (20% dos utilizadores estrangeiros), França (15%), Suíça (10%), Estados Unidos (9%) e Reino Unido (8%) são os países que mais procuraram casa em Portugal em 2021. Este TOP 5 é o mesmo que se verificou em 2020. Face a 2019, há em 2021 uma subida da procura no caso dos holandeses (+24%), luxemburgueses (+22%), alemães (+16%), Suíços (+13%) e franceses (+8%). Os imóveis do Porto, Lisboa e Braga foram os mais pesquisados pelos estrangeiros.