Para marcar a chegada aos 30 anos, a VISÃO lança a rubrica multimédia “Ideias com VISÃO”. Serão 30 semanas, 30 visionários, 30 ideias para fazer agora. Da ciência à saúde, das artes ao humor, das empresas ao ambiente, figuras de referência nas mais variadas áreas darão os seus contributos para pensar um Portugal melhor. Semanalmente em papel e aqui em vídeo.
Atualmente, o modelo de financiamento dos hospitais é baseado no número de atos praticados. Um hospital recebe tanto mais quanto mais internamentos, mais cirurgias, mais urgências tiver.
Se pensarmos bem, este não é o incentivo certo para o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Por um lado, não está apostado na prevenção. Por outro, desliga o financiamento do resultado para o paciente. Se este tiver de voltar para uma segunda cirurgia porque a primeira não correu bem, o sistema paga uma vez mais. Se a cirurgia não tiver dado o conforto suficiente ao doente, e ele tiver de passar a ter muitos cuidados hospitalares, o sistema volta a pagar. Em terceiro lugar, o atual modelo de financiamento não permite aos hospitais usar o seu orçamento para se organizarem da melhor forma para ter uma gestão mais eficiente e mais centrada no doente.
Está anunciada a vontade de alargar as Unidades Locais de Saúde como modelo privilegiado. E, portanto, a reorganização administrativa já está decidida. Falta continuar este esforço, que é o de aprovar um novo modo de financiar o SNS e de financiar este sistema. Para isso, é preciso continuar a vontade política de reformar o SNS e olhar para os países europeus que têm seguido a contratação e modelos de financiamento baseados em valor, e adotar, com as devidas adaptações ao SNS, aquilo que tem sido feito pelos sistemas públicos de saúde por toda a Europa.
É complexo, implica alterar a forma como nos organizamos e financiamos, mas é possível e é um sistema ideologicamente transversal. Não se trata de qualquer tipo de privatização, nem de qualquer tipo de alienação de competências ou de capacidades. Estamos a falar em atribuir o mesmo orçamento de modo diferente.
Um utente do SNS prefere ter um SNS que está organizado para pagar aos hospitais o número de cirurgias, internamentos e urgências que faz, ou um sistema que está preparado para premiar e financiar de acordo com os resultados para o seu bem-estar? É isto que este modelo de contratação e de financiamento procurar privilegiar: alinhar os incentivos do sistema com a saúde do paciente.