Onde havia frases, desabafos, poemas, personagens e gritos de parede, impôs-se a tinta que apaga tudo e não deixa nada. Andarão por aí novos “vampiros”, quais mordomos do universo todo, mordendo pela calada, em tempo de pandemia?
O mosaico grafitado da urbe, nas suas mais variadas expressões, foi, por estes dias, despertando mais pobre (para uns), mais limpo (para outros) e diferente (para todos). Palavras, desenhos, figuras, as mais diversas expressões, irritações e pichagens da arte urbana levou-as a tinta, inerte, despida, mortiça, que tudo normaliza e legaliza. Chegou a prédios, escorreu pelas paredes, “calou” muros, revoltas e edifícios esventradas do Porto, deixando ao relento meros resquícios artísticos ou gatafunhos vândalos pela cidade grafitada.
Eles pintam tudo e não deixam (quase) nada?
Os “vampiros” andam soltos pela cidade confinada, abafada. Voam livres de protestos entretanto trancados, batendo as asas ou dançando sob o astro mudo. Deixam o seu rasto nas horas agora quase mortas. Amanhece depois um Porto calado, de quarentena, reduzido a frases ou gritos em estado de emergência.
Este ano, nem a liberdade sai à rua. Mas, se mesmo assim lhe fugir o pé, não pode fazê-lo em grupo e deve obedecer à distância social (que raio de nome), dita higiénica.
Eles comem tudo, os novos “vampiros” deste tempo sisudo? Ou haverá ainda cravos por nascer, nas paredes e muros silenciados, a lembrar-nos que Abril é uma terra sem amos?