Os escritórios da OceanScan têm o mar por cenário. Seria o panorama ideal para a maioria dos empregados de escritório, mas no caso da empresa nortenha é uma necessidade. Sempre que precisam de testar uma nova tecnologia, os investigadores daquela que é, provavelmente, a única fabricante de submarinos autónomos em Portugal apenas têm de percorrer uma centena de metros e deslocar-se a um dos pontões da Marina de Leça da Palmeira.
À lista de interessados nestes “drones subaquáticos” juntou-se recentemente a Marinha Portuguesa. A curiosidade das forças militares não é propriamente novidade para esta empresa que começou por dar os primeiros passos no Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (Uptec). «Estes submarinos podem executar missões militares. É verdade que não estão preparados para lançar ataques, mas podem ser muito úteis na inspeção de objetos suspeitos ou no reconhecimento de uma determinada área», explica Luís Madureira, diretor da OceanScan.
Até à data, a OceanScan já vendeu nove submarinos capazes de executarem de forma autónoma as missões definidas por um humano. Alguns dos clientes encontram-se em paragens tão longínquas como a Rússia ou a Croácia, mas a empresa nortenha acredita que pode chegar a latitudes ainda mais exóticas: «Além da guerra de minas e do mercado militar em geral, estes submarinos podem ser úteis para missões de oceanografia, ou para a inspeção de oleodutos e plataformas de extração de petróleo», acrescenta Luís Madureira.
A OceanScan já garantiu os primeiros clientes no segmento militar e na oceanografia. No segmento da exploração petrolífera, a entrada poderá ser facilitada com o desenvolvimento de novos modelos de robôs subaquáticos. «Já desenvolvemos submarinos que vão até aos 100 metros de profundidade. Temos planos para criar modelos que podem ir a águas mais profundas. A profundidade é um fator importante, porque nos permite abrir o leque de usos e aplicações para estes submarinos», explica Luís Madureira.
Hoje, OceanScan desenvolve submarinos com pesos entre os 15 Kg e os 30 Kg – um fator que é valorizado em termos de operacionalidade, uma vez que, acima dos 50 Kg, as operações de lançamento e recolha passam a exigir gruas.
O desenvolvimento de submarinos que suportam profundidades superiores aos 100 metros exigirá um desenho que concilie a operacionalidade do veículo com o necessário reforço da estrutura para suportar pressões superiores. A este desafio junta-se outro: «também vamos ter de desenvolver as ferramentas necessárias para certificar que os submarinos estão aptos a suportar as pressões em profundidades superiores (a 100 metros). A alternativa seria recorrer ao estrangeiro, para fazer esses testes de certificação… mas é uma alternativa muito cara», lembra o responsável da OceanScan.
Enquanto não começam as incursões por águas mais profundas, a OceanScan conta continuar a diferenciar-se através do preço. Um exemplo dado por Luís Madureira: «já vendemos submarinos por 200 mil euros que as marcas concorrentes vendem por um milhão de euros».
Um milhão de euros é também a meta de faturação que a companhia, que tem crescido com o apoio científico da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), pretende alcançar no final de 2014. Para uma empresa que tem cinco funcionários e que monta as suas máquinas peça a peça nos escritórios é um valor promissor – mas Luís Madureira acredita que é possível ir mais longe: «Em Portugal, ainda não temos clientes, mas quanto mais atividades no mar houver, maior será o nosso potencial de vendas».