Cada vez que surge uma nova ferramenta tecnológica disruptiva existem dois tipos de reações comuns. A primeira é a curiosidade para testar, verificar se é user-friendly, time-saver e mais uma série de anglicismos que permitem avaliar se esta tecnologia acrescenta (ou, melhor, reduz) às tarefas quotidianas, sejam profissionais ou pessoais. A segunda é o medo e a rejeição do avanço tecnológico, alimentado pela ideia de substituição dos humanos pelas máquinas ou, no limite, por mero desinteresse em quebrar os padrões habituais e a nossa zona de conforto.
Enquanto programador, apaixonado por tecnologia e focado em resolver problemas e CTO, deparo-me, diariamente, na Granter.ai, com este tipo de reações e receios quanto à substituição do trabalho dos humanos pela Inteligência Artificial (IA). Ao liderar o negócio, construir a tecnologia e definir a visão do produto, é importante reforçar a necessidade da sensibilidade humana, um elemento que não podemos perder e essencial a vários negócios. A IA é uma ferramenta que veio facilitar certos processos e trabalhos, mas a visão humana através da linguagem, personalização e pensamento crítico são cruciais. Não é este um mundo muito melhor, que nos permite ser melhores – perdoem a redundância – quando temos nas nossas mãos um acelerador?
A tecnologia é o meio e nunca o fim para atingir determinado objetivo, principalmente quando operamos num mercado tradicional, onde o contacto humano ainda é altamente valorizado e os clientes esperam um serviço personalizado. Por esse motivo, qualquer organização que ambicione introduzir IA no seu negócio, terá de encontrar um equilíbrio entre a automatização da tecnologia e a interação humana.
Estamos apenas a começar a arranhar a superfície da resolução de problemas com recurso à tecnologia, em particular mediante a IA, pois existem muitos verticais a melhorar na sua integração nas estruturas pré-existentes. Este fator reflete também a necessidade de ter mais pessoas para criar, testar, adaptar, experimentar e implementar a tecnologia, e repetir todo o processo as vezes que forem precisas. Mesmo que a IA se torne tecnicamente melhor do que um humano, a sua supervisão será sempre essencial.
Ainda que superemos os desafios técnicos, teremos de enfrentar as barreiras da confiança e sociais, o que vai demorar uns bons anos a acontecer. Veja-se o caso da automatização da condução. Estudada há décadas, existem artigos científicos publicados a afirmar que alguns sistemas mais avançados podem ter uma taxa de acidentes inferior à condução humana, se fosse universalmente usada. Contudo, apesar das estatísticas, a ocorrência de um único incidente ou erro, por mais pequeno que seja, remove de imediato qualquer confiança por parte da sociedade e impossibilita a sua generalização. Nesse sentido, olhar para a tecnologia e perceber como a sociedade se comporta e reage a determinados estímulos é fulcral para a criação de novos produtos e tecnologias.
Com o avanço tecnológico, é inevitável começarem a nascer formas de despistar a má utilização de certas ferramentas de IA e de regulação e legislação que orientam o seu usufruto, como o EU AI Act, o primeiro regulamento abrangente sobre IA. Infelizmente, muitas leis surgem apenas após a criação ou os abusos de novas tecnologias. Por essa razão, temos a responsabilidade de agir de forma premeditada, uma vez que o impacto pode ser devastador se esperarmos que as coisas corram mal.
É uma questão de tempo até a tecnologia inteligente transformar o mercado de trabalho como o conhecemos hoje em dia. A longo prazo, a tecnologia vai pôr em causa muitas profissões e devemos pensar em soluções que integrem estes avanços, sem criar o pânico. Contudo, a substituição dos trabalhadores pela IA não será imediata, pois haverá uma adaptação e necessidade de criação de novos postos de trabalho, tal como aconteceu após a Revolução Industrial. Aliás, precisa-se de pessoas para ajudar a resolver velhos problemas de novas formas, com a ajuda destas modernas ferramentas.
A IA não deve ser vista como um inimigo, mas sim como um aliado dos humanos. A revolução tecnológica não é algo novo na nossa sociedade, é um processo natural da evolução não só da inteligência artificial como humana. É a tecnologia que depende dos humanos e não o contrário.