O utilizador pode escolher exatamente aquilo que quer: se prefere uma modelo de lingerie ou uma profissional da musculação; com os seios grandes ou pequenos; loira ou ruiva; qual a ascendência étnica; se quer que a imagem se assemelhe a uma fotografia ou a uma pintura; se quer que o ambiente de fundo seja um quarto ou um iate; e é até possível escolher a posição como vai surgir na imagem final. É um verdadeiro sistema de imagens para adultos ‘à la carte’.
Uma nova ferramenta de geração de imagens fotorrealistas através de sistemas de Inteligência Artificial – uma área da computação que é conhecida como geração de conteúdos sintéticos – está a dar que falar, pois permite fazer o mesmo que outros conhecidos sistemas de geração de conteúdos – como o Dall-E 2, Midjourney ou Craiyon –, mas aplicado à pornografia. Ou seja, o computador gera uma imagem com base nas entradas de texto fornecidas pelo utilizador e devolve uma imagem de uma mulher, na maior parte dos casos, despida.
O sistema em questão chama-se Porn Pen e mostra, por um lado, como a Inteligência Artificial está a evoluir na geração de conteúdos pornográficos realistas, e por outro como estas ferramentas estão cada vez mais acessíveis a todos os utilizadores, incluindo os que não têm qualquer conhecimento avançado de informática ou programação. O Porn Pen tira partido de um modelo de Inteligência Artificial (IA) capaz de traduzir texto em imagens fotorrealistas chamado Stable Diffusion.
“Este site é uma experiência que usa modelos novos de [conversão de] texto-para-imagem. Removi explicitamente a capacidade para criar texto personalizado para evitar que sejam geradas imagens prejudiciais”, disse o criador anónimo da plataforma, que dá pelo nome online ‘dreampen’, citado pela publicação TechCrunch.
Os especialistas ouvidos pela publicação norte-americana alertam para alguns perigos associados a estas ferramentas. Por um lado, tem potencial para replicar estereótipos que existem associados ao mundo da pornografia. “Por definição [estes sistemas] vão representar aqueles cujos corpos são aceites e valorizados na generalidade da sociedade”, comentou Os Keyes, investigador da Universidade de Seattle, nos EUA. E um claro enviesamento do Porn Pen é o facto de só permitir gerar imagens de mulheres.
E apesar de as pessoas retratadas nas imagens não serem reais, são geradas a partir de bases de dados de pessoas reais e que podem não saber que fazem parte de um modelo de treino de sistemas de Inteligência Artificial. Além disso, como é um modelo disponível em código aberto, significa que qualquer pessoa pode ‘pegar’ nele e alterá-lo – com que fim, só quem o alterar é que poderá dizer.
“A criação sintética de imagens é agora uma tecnologia difundida e acessível, e penso que ninguém está realmente preparado para as implicações desta ubiquidade”, comentou Mike Cook, investigador da área de IA.
Este não é o primeiro exemplo de como sistemas de Inteligência Artificial já estão a ser usados para criar uma nova geração de pornografia – o mundo dos deepfakes, vídeos criados através de manipulação por IA e que permite colocar caras de pessoas noutras corpos, é dominado pelas criações pornográficas, com um estudo da Sensity AI a colocar os vídeos para adultos como 96% de todos os deepfakes criados.