O estudo de Rogoff e Reinhart entrou para a história por preconizar medidas de austeridade – e também por conter erros nas folhas cálculo de Excel que serviram de base às conclusões desse estudo. Se os investigadores que dão nome ao estudo usassem o software Mdsheet, provavelmente, os erros teriam sido detetados na própria folha de cálculo e eventualmente as conclusões seriam diferentes.
O Mdsheet foi desenvolvido por investigadores pelo Laboratório de Software Confiável (HasLab) do Tec Minho para operar como um guia da construção em folhas de cálculo. Atualmente, está disponível uma versão para Libre Office; mas os mentores da aplicação garantem que facilmente recorrem a add ons que permitem o uso da mesma aplicação em folhas de cálculo Excel, da Microsoft, ou de outras marcas que operam no segmento.
O laboratório associado do Inesc-Tec já solicitou o registo de patente para este software. A tecnologia tira partido dos métodos desenvolvidos pelo estudante de doutoramento Jácome Cunha, que teve por temática as «Folhas de Cálculo entendidas como linguagens de programação. Atualmente, está a ser trabalhada uma eventual parceria com uma empresa holandesa. Os mentores do projeto acreditam que, no verão, poderá haver novidades no que toca a uma eventual estreia comercial.
Para criarem a nova ferramenta, os investigadores do Tec Minho transportaram para as folhas de cálculo alguns princípios usados nas linguagens de programação contemporâneas que reduzem grande parte dos erros produzidos pelos programadores.
«Nas folhas de cálculo, há muita liberdade, mas também há muitos erros. Nós criamos uma ferramenta que define um modelo de acordo com uma lígica de negócio. O que significa que todos os dados que forem inseridos nessa folha de cálculo têm de respeitar esse modelo. Isto é importante porque cada vez mais se usam folhas de cálculo… sendo que cada utilizador pode manipular essas folhas», explica João Saraiva, líder do desenvolvimento do Mdsheet, quando inquirido pela Exame Informática.
Em comunicado, os investigadores recorrem ao polémico estudo sobre as políticas de austeridade para ilustrar o que o Mdsheet poderia fazer para evitar que cinco países tivessem ficado de fora das contas finais: “No caso do estudo de Rogoff e Reinhart (2010), “Crescimento num tempo de dívida”, sempre que um novo país fosse inserido, as fórmulas no fundo da folha de cálculo seriam automaticamente atualizadas para incluírem esse novo país. O software não permitiria que nenhum país fosse deixado de fora”, atenta João Saraiva.
No que toca ao potencial de negócio do Mdsheet, os números falam por si: alguns estudos revelam que em países como os EUA as folhas de cálculo são usadas por 95% das empresas.
A este dado acresce outro de especial relevância: 94% das folhas de cálculo usadas em ambiente empresarial têm erros, que terão estado na origem de prejuízos de 10 mil milhões de dólares anuais.