O tiro de partida para a primeira criptomoeda liderada pela Facebook acaba de ser assinalado: a meados de 2020, as plataforma de mensagens Whatsapp e Messenger do Facebook vão passar a permitir fazer pagamentos e transações através de uma moeda virtual, a troco de comissões marginais. O projeto arrancou oficialmente, tendo o apoio de 28 parceiros que se juntaram na Associação Libra que tem sede num país conhecido pela neutralidade e pela atividade bancária – na Suíça, mais precisamente, na cidade de Genebra.
Entre os membros fundadores figuram vários “pesos pesados”, além da Facebook. Mastercard, Visa, Spotify Technology, PayPal, eBay, Uber e Vodafone são alguns dos parceiros que mereceram o destaque na notícia da Reuters sobre a primeira leva de fundadores.
Até meados de 2020, os mentores da Libra Association contam angariar o apoio – e mais importante ainda o investimento – de cerca de 100 parceiros. Cada membro terá de investir um total de 10 milhões de dólares para garantir o poder de voto na assembleia da Libra Association. Para a Facebook, a Libra pode muito bem ser a oportunidade de rentabilizar serviços de mensagens como o do Facebook ou do Whatsapp, cujos modelos de negócio continuam por definir. Apesar da potencial faturação, a maior das redes sociais já fez saber que não pretende estender a liderança na promoção do projeto para lá de 2019.
«Quando (a Libra) chegar ao mercado no próximo ano, deixará de ser uma iniciativa controlada pela Facebook. Vamos ter exatamente o mesmo direito de voto de todos os outros membros», explica em declarações para BBC, David Marcus, antigo presidente da Paypal, que agora assume o cargo de vice-presidente da Facebook com responsabilidade sobre as plataformas de mensagens.
A nova criptomoeda que poderá tirar partido das plataformas de mensagens instantâneas para funcionar como uma alternativa comercial a serviços como o MB Way, que usa um processo similar, mas já começou a ser alvo de comissões de alguns bancos portugueses que chegam aos 1,2 euros, ou às próprias criptomoedas mais conhecidas, que têm as bitcoins como exemplo mais conhecido.
A nova moeda deverá passar a ser gerida por uma entidade conhecida por Calibra, que terá como principal função gerar carteiras virtuais que deverão ser usadas para executar os diferentes pagamentos. Sabe-se que à semelhança das bitcoins, também a Libra deverá recorrer ao blockchain, mas entre os mais céticos há quem questione o uso de uma tecnologia que pode exigir a “mineração” através de cálculos computacionais, quando o perfil típico dos utilizadores do Facebook e do Whatsapp não estará disposto a esperar por sistemas demasiado complexos para ter acesso aos novos métodos de pagamento.
Por esclarecer fica um ponto fulcral: como é que a nova moeda, que se pretende que seja global e possa ser usada tanto em países onde os serviços bancários são sofisticados como em locais remotos onde ainda não existem sequer caixas automáticas, vai assegurar um equilíbrio entre segurança de transações, privacidade dos utilizadores e cooperação com as autoridades ?
A esta questão, juntam-se duas outras incógnitas: como deverá funcionar o câmbio entre Libras e moedas convencionais? E os bancos convencionais, será que vão aceitar depósitos em Libras?
Em declarações reproduzidas pela Reuters, Kevin Weil, vice-presidente da Calibra, promete reunir-se os diferentes reguladores a fim de definir os limites do funcionamento da Libra, tendo os parâmetros de segurança atualmente aplicados à banca: «Vai dar-nos uma base para iniciarmos conversações produtivas com os reguladores de todo o mundo».
Sem fornecer muitos detalhes, a Facebook comprometeu-se apenas a usar ferramentas de verificação de identidade e antifraude. As notícias que se seguiram ao anúncio da Libra dão conta de que os diferentes parceiros que fundaram a Associação Libra deverão ter acesso a «nós» que asseguram as diferentes transações entre utilizadores, empresas ou lojas.
Essa será a razão que levou empresas como a Visa, a Mastercard ou a PayPal a aderirem ao projeto. A Facebook admite que estas empresas poderão beneficiar com o acesso a informação sobre transações e compras de milhões de pessoas dispersas pelo mundo, mas também garante que os consumidores vão poder decidir se os respetivos dados poderão ser enviados para entidades externas para efeitos de publicidade. Mandados das autoridades judiciais e questões de segurança do sistema bancário ou do próprio sistema serão as exceções a esta regra.