José Costa Rodrigues queria muito ter um iPhone, mas os pais viam a questão de modo diferente. «Achavam uma parvoíce dar mais de 500 euros para um telemóvel que ia ser usado por um miúdo», recorda. Nessa altura, José Costa Rodrigues tinha 16 anos. Pedia aos pais sempre que queria um telemóvel novo. O normal para quase todos os adolescentes portugueses. O que se seguiu à nega parental é que já foge daquilo que acontece com a maioria: «fui para o OLX à procura de iPhones e consegui encontrar um por 340 euros», recorda o jovem. Fim de história? Não, apenas o princípio de uma nova história. E não, José Costa Rodrigues não viveu feliz para todo o sempre com o iPhone finalmente encontrado. «Vendi o iPhone pouco depois por 380 euros», recorda.
O filão estava descoberto. Nos cinco anos seguintes, Costa Rodrigues nunca mais parou na compra de telemóveis usados que são depois comercializados como «seminovos». O respeito pelas melhores práticas de marketing compensou: hoje, a jovem empresa Forall Phones já superou os três mil telemóveis transacionados. As recomendações passadas de clientes para familiares e amigos deram uma ajuda importante, mas foi a chegada às redes sociais que funcionou como principal motor de popularidade: Mais de metade das vendas foram efetuadas depois do lançamento de uma página da Forall Phones no Facebook, em 2016. «Temos mais de 500 críticas, com uma média de 4,9 estrelas (cinco estrelas é o máximo nas críticas do Facebook)», garante o jovem empresário, com um ponta de orgulho.
Quinta-feira, dia 28 de setembro, José Costa Rodrigues ganha mais uma razão para se sentir orgulhoso: a Forall Phones vai abrir a primeira loja física, com cinco colaboradores a tempo inteiro, e um centro de reparações e garantias, que testa 30 componentes de cada telemóvel comprado pela “casa” para posterior revenda em três categorias que variam consoante o estado do terminal. A perspetiva da empresa é faturar um milhão de euros até ao final do ano. O que significa quase triplicar os 380 mil euros amealhados em vendas durante o ano passado.
Num negócio que prevê a venda de terminais com um ano de garantia e em que as margens de lucro são determinantes, tudo leva a crer que as oportunidades de compra são escrutinadas ao pormenor e os respetivos preços de compra e venda são esticados ao cêntimo, mas José Costa Rodrigues prefere enaltecer uma outra característica: «Sobretudo tentamos salvaguardar a qualidade do produto para o próximo cliente, verificando que todos os serviços dos telemóveis que vendemos funcionam».
Depois de um tempo em que operou circunscrita aos iPhones, a Forall Phones expandiu o raio de ação para terminais da Samsung e Huawei. «Começámos com iPhones, especializámo-nos e tentámos conhecer todos os modelos e todas as especificidades. Só depois é que pudemos avançar para telemóveis de outras marcas. Tentamos sempre saber tudo o que é necessário para perceber como é que uma marca funciona», explica o líder da startup portuguesa.
Os menos atentos poderão julgar que, nos escaparates da loja que vai abrir na Avenida do Brasil, não haverá telemóveis posteriores às “penúltimas” versões que saem para o mercado, mas o líder da Forall Phones garante que não são assim tão raros os telemóveis que, além de estarem na garantia, terão sido lançados no mercado nacional um, dois ou três meses antes. «Há sempre alguém que se arrepende de ter comprado. E, além disso, trabalhamos com os grandes empresas do mercado de telecomunicações», refere o jovem empresário.
José Costa Rodrigues garante que a Forall Phones toma todas as medidas necessárias para evitar a recetação de equipamentos roubados, e também relativiza a ameaça vinda de programas de retoma que marcas como a Apple e a Samsung têm lançado no mercado. «Essas marcas não têm os nossos preços, e não dão um apoio ao cliente como nós, que enviamos mensagens duas semanas depois a perguntar se está tudo bem com o telemóvel e a apresentar uma sugestão de apps que podem ser usadas», sublinha o jovem que lidera Forall Phones.
Com as primeiras vendas para França e Itália já inseridas no currículo, e um curso de gestão ainda a meio, José Costa Rodrigues prepara-se para enfrentar um desafio de desfecho imprevisível com a abertura de uma loja, mas já pode reclamar algumas vitórias pessoais, que nenhuma universidade ou empresa podem dar: «Hoje os meus pais usam telemóveis seminovos. Ainda bem que não me deram o dinheiro para comprar um iPhone há cinco anos; e estou contente por me terem levado a trabalhar».