Será Lisboa um milagre?, Paulo Soeiro de Carvalho, diretor Municipal de Economia e Inovação da Câmara Municipal, não acredita em milagres, mas concorda com todas as pessoas que comparam a ascensão da capital ao protagonismo de Berlim ou São Francisco na área das tecnologias. «Há quem diga que Lisboa é um milagre – mas nós não acreditamos em milagres. Lisboa passou a ter uma estratégia que nenhuma cidade portuguesa tinha tido: e em vez de competir com Oeiras, para evitar a deslocação de empresas para a periferia, ou com outras cidades do País, decidimos ser uma das cidades mais competitivas a da Europa», concluiuhoje o diretor municipal durante a conferência As Maiores do Portugal Tecnológico, organizada pela Exame Informática com o Expresso e Ignios.
Nas tecnologias, o futuro perfila-se: e o crescimento da capital no que toca às tecnologias, mesmo que não seja único no País ou no mundo, já serve de referência para o que aí vem: 16 incubadoras, seis aceleradoras e várias startups criadas por portugueses e estrangeiros que querem apanhar a boleia da inovação alfacinha; e futuramente um novo centro de operações que vai agregar a presença da proteção civil e de outros intervenientes humanos, bem como uma plataforma de dados abertos para todos usarem – sejam empresas ou cidadãos.
Quando essa plataforma que recolhe e redistribui os dados por quem mais precisa estiver operacional, então as tecnologias poderão cumprir uma das suas missões mais importantes: «acrescentar valor para as pessoas», como apontou Frederico Paiva, responsável da Samsung, que participou no debate sobre Internet das Coisas (IoT) das Maiores do Portugal Tecnológico. Sobre o IoT, o responsável da Samsung não hesitou em antever um crescimento acentuado: «todas as vezes que se fala do tema, há novos dados que são avançado e isso ajuda a antever a velocidade a que esta tendência está a crescer. Sabemos que as redes e os equipamentos vão ser importantíssimos». Sofia Tenreiro, diretora-geral da Cisco Portugal enumerou os quatro pilares da IoT – e de toda a transformação social prevista pelas redes das coisas: pessoas, máquinas, dados e processos. São estes quatro pilares, quando bem conjugados, que permitem saber quem acede a que informação, que máquinas são conectadas, e que ações são tomadas de acordo com o contexto e o objetivo. No fundo, não será muito diferente do que acontece atualmente com alguns dos edifícios inteligentes que já servem de mostra tecnológica.
Pedro Afonso, managing director do negócio de infrastructures & managed services da Novabase, não tem dúvidas de que o caminho passa pelas tecnologias – mas recorda que é necessário criar engagement com a população, caso contrário toda a sofisticação será desperdiçada. O que também poderá implicar uma mudança de mentalidades entre quem disponibiliza as diferentes soluções: «Fomos todos treinados para vender mais tecnologias, mais soluções, mais horas, mais capacidade, e no final perguntamos qual o propósito desses investimentos… e se formos ver alguns desses investimentos têm um aproveitamento diminuto».
Aparentemente, tanto o aproveitamento como o engagement não têm parado de aumentar nos últimos em Portugal. Miguel Barbosa, administrador da Agência Nacional de Inovação, descreveu a auspiciosa realidade com a comparação entre um “antes” e um “depois” de programas como o QREN ou o 7º Programa Quadro: Entre as notas positivas, destaca-se o facto de «nos últimos três anos, conseguimos acumular um saldo positivo de 700 milhões de anos na balança tecnológica»; e ainda o indicador que revela qye «o investimento estrangeiro em I&D em Portugal cresceu nos últimos anos mais de 4 vezes». Miguel Barbosa lembra que também há indicadores a melhorar: «em Portugal, só 4,5% de doutorados trabalham em empresas – o que contrasta pessimamente com a média europeia».
Para contrariar este e outros indicadores que nem sempre são os mais favoráveis, Miguel de Campos Cruz, presidente do IAPMEI, aproveitou a participação no painel dedicado ao programa Horizonte 2020 (H2020)para recordar que o tecido económico português é dominado por PME que, em vez de produzir inovação, adotam tecnologias produzidas por outras empresas. Sobre o H2020, deixou um alerta: «Estes programas são instrumentos que estão disponíveis para a empresa usar ao serviço da sua estratégia. Se a estratégia passar por captar este instrumento, então vai acabar por correr mal».
António Monteiro, líder da Ignios, contrapôs à agilidade das PME um problema que hoje afeta toda a indústria: «As empresas têm de saber reagir para suprir a escassez de quadros qualificados».