Aos 10 anos de idade seguem para o 5º ano de escolaridade – e, em média, é aos 10,49 anos que recebem o primeiro telemóvel. Quem fugir à média, também não deverá ter de esperar muito mais: 65% dos alunos recebem o primeiro telemóvel entre os 10 e os 12 anos de idade, revela o estudo FAQtos, realizado por investigadores do INOV-INESC. Há alguns casos em que o telemóvel chega mais tarde, mas têm reduzida expressão estatística: « A partir dos 13/14 anos, a presença de telemóvel já é praticamente regra entre todo os jovens», refere o estudo do INOV-INESC, com base nos inquéritos realizados durante quatro anos a 7.820 alunos de 116 escolas secundárias do País.
«Dar um telemóvel é quase como um atestado de maioridade da criança que chega aos 10 anos e está no 5º ano de escolaridade. Os pais poderão não estar a respeitar algumas recomendações que referem que só se deve receber um telemóvel depois dos 13 anos de idade. O telemóvel é dado como um prémio para a criança, mas é também uma forma de confortar os pais, que passam a poder comunicar facilmente com os filhos», explica Luís Correia, investigador do INOV-INESC e um dos autores do estudo FAQtos.
O estudo, que chegou agora à quarta e última edição, também ajuda a revelar as principais tendências de uso do telemóvel pelos adolescentes portugueses: em média, cada jovem português passa, diariamente, 29,4 minutos a falar ao telemóvel. Apesar de admitirem que estes valores possam depender de alguma subjetividade das respostas dos alunos, os autores do FAQtos concluem que, entre os anos letivos de 2013/14 e 2014/15, registou-se uma quebra de 23% no período médio gasto, por dia, em chamadas de telemóvel.
Nos SMS, é também identificada uma tendência similar: em média cada jovem envia 81,1 SMS por dia. O inquérito permitiu ainda apurar que mais de 15% dos jovens enviam diariamente entre 100 e 199 SMS; e pouco menos de 10% enviam entre 200 e 499 SMS diárias. Apesar de surpreenderem um adulto menos versado em telemóveis, estes números evidenciam um declínio no uso dos SMS, devido ao acesso à «crescente adesão dos jovens a aplicações de troca de mensagens como o WhatsApp ou o Viber», explicam os autores do FAQtos.
Luís Correia relaciona o declínio do uso das funcionalidades de SMS e chamadas de voz “tradicionais” com o acesso à Internet e respetivos pacotes de dados. A adesão às redes sociais, com ferramentas que permitem enviar mensagens com recursos multimédia mais sofisticados ou que facilitam a comunicação com vários utilizadores em simultâneo, também terá contribuído para progressivo abandono dos SMS.
O FAQtos apurou ainda que, no ano letivo 2014/15, mais de 85% dos adolescentes portugueses conseguiam aceder à Internet e às redes sociais a partir do telemóvel – um número que supera largamente os 35% registados em 2010/11.
O investigador do INOV-INESC acredita que os jovens portugueses não comunicam menos, «apenas usam outras ferramentas», que não deverão repercutir-se num declínio de receitas para os operadores. «Cada vez mais, o telemóvel é usado como uma extensão do computador pessoal», acrescenta Luís Correia.
Para os jovens inquiridos, o uso do telemóvel tem um custo médio mensal de 9,36 euros. Os tarifários adotados já incluem planos de dados/tráfego na Internet em 72% dos casos. «A maioria inclui entre 200 e 500 MB de tráfego, embora se tenha verificado um aumento considerável dos tarifários com planos de dados superiores a 1 GB», revela o FAQtos. No ano letivo 2014/15, cada jovem terá beneficiado de tarifários com 491,2 MB de tráfego mensal.
Ao cabo de quatro anos de inquérito, Luís Correia já não tem muitas dúvidas de que o telemóvel tem uma função crucial na vida dos adolescentes: «É algo considerado indispensável; que é tão natural quanto almoçar ou jantar».
Pode ser um dispositivo central, mas ainda não será propriamente motivo de preocupação para os jovens: pouco mais de 40% dos inquiridos revelaram, no ano letivo de 2014/2015, que se preocupam com os efeitos que as radiações eletromagnéticas poderão ter para a saúde. Mas a larga maioria não procura obter mais informação sobre o assunto; e mais de 60% dizem não tomar qualquer medida de precaução; sendo que 20% admitem não saber que medidas poderão tomar.
Luís Correia relativiza os riscos que as radiações do telemóvel poderão ter para a saúde. «Como em tudo na vida, convém fazer um uso regrado (do telemóvel), apesar de as radiações emitidas pelos telemóveis terem potências tão reduzidas que não justifiquem grande preocupação. Penso que é na perda de concentração nas salas de aula ou nas horas do estudo que o telemóvel tem um impacto mais negativo», conclui Luís Correia.