O filme The Interview tem como enredo o assassinato do presidente da Coreia do Norte Kim Jong-Un. O filme tem ambições de comédia, mas os Guardiães da Paz (GOP), que terão estado na origem dos mais recentes ataques à rede informática da Sony, não terão achado grande piada ao guião, e fizeram questão de mostrar isso mesmo numa mensagem à população de Nova Iorque: «Aconselhamos a manterem-se longe dos locais à hora da estreia». A ameaça vai ainda mais longe: «(Se a vossa casa está nas imediações (das salas de cinema), é melhor que saiam», cita a Reuters.
Em Portugal, o filme tem estreia agendada para 29 de janeiro, confirmou a distribuidora Big Picture. A distribuidora não faz qualquer comentário sobre um potencial cancelamento do filme.
Na memória dos nova iorquinos ainda persistem as imagens dos atentados de 11 de setembro – e os GOP, que tudo indica, serão os mesmos autores que lançaram ataques à rede da Sony que têm vindo a virar do avesso o estrelato de Hollywood, não tiveram pruridos em fazer alusões aos ataques levados a cabo contra as Torres Gémeas em 2001.
O Departamento de Segurança Interna (DHS, na sigla em inglês) reiteraram prontamente que nada de substancial havia sido descoberto que levasse a acreditar num possível ato de terrorismo durante a estreia do filme protagonizado por James Franco e Seth Rogen: «Neste momento, não há dados credíveis que indiciem um ataque contra as salas de cinema nos EUA», referiu fonte institucional do DHS, citada pela Reuters.
Apesar de o DHS relativizar o alcance da ameaça, as polícias de Los Angeles (onde o filme estreou a 11 de dezembro) e Nova Iorque afirmaram que iriam tomar medidas para garantir a segurança das salas de cinema.
Credível ou não, a ameaça não tardou a produzir efeito no circuito das salas de cinema. Antecipando uma provável retração do público, a Landmark, uma empresa de distribuição de filmes para salas de cinema, confirmou ter procedido ao cancelamento da estreia que estava agendada para quinta-feira. A Carmike, que detém 278 salas de cinema dispersas por 41 estados dos EUA, não se pronunciou sobre o assunto, mas no circuito circula oficiosamente a confirmação de que também optou pelo cancelamento do filme.
A Sony fez saber que não vai retirar o filme do circuito – mas diz que nada vai fazer para evitar que os distribuidores e gestores de salas de cinema procedam ao cancelamento desta comédia negra.
O filme tem sido alvo de polémica por abordar uma tentativa de assassinato de um líder de uma estado pária através de uma comédia – e constou mesmo na lista de menções e reivindicações dos hackers que desviaram dados confidenciais da Sony no final de novembro.
James Franco e Seth Rogen cancelaram a presença nos mais recentes eventos públicos – sendo que Rogen, a acreditar no poderio das ameaças dos hackers, poderá ter atraído a fúria dos GOP ao elogiar Amy Pascal, presidente da Sony, por ter prosseguido com a distribuição do filme, apesar de todas pressões – entre elas, a publicação de e-mails confidenciais e uma cena do filme que revela um ataque de mísseis contra Kim Jong-Un.
Poderia ter sido apenas mais um ataque de hackers, mas a Sony e Hollywood dificilmente esquecerão o momento: a par das revelações sobre os pensamentos menos elogiosos dos executivos da produtora de cinema sobre algumas estrelas de cinema, também o guião do mais recente episódio da saga de James Bond foi alvo de fuga de informação. A ameaça de terrorismo vem elevar a fasquia no que toca à liberdade do cinema e à segurança eletrónica – mas também poderia muito bem servir de guião para um novo blockbuster.