Eram oito horas da noite locais de 18 de fevereiro quando no Portão das Lágrimas, nome pelo qual também é conhecido o estreito de Bab-El-Mandeb, dois mísseis balísticos foram disparados de uma zona do Iémen associada ao grupo rebelde Huthis contra o Rubymar, um navio de transporte de mercadorias. Menos de duas horas depois, a embarcação partilhava a última localização usando o sistema de identificação automática de navegação, uma espécie de GPS usado pelos barcos.
A tripulação do Rubymar foi resgatada por embarcações nas proximidades depois de terem feito um pedido de socorro. Seis horas depois do embate dos mísseis, todos os tripulantes estavam a salvo, revela a revista Wired.
Antes de abandonar o navio, a tripulação soltou a âncora do Rubymar. Mas isso não foi suficiente para impedir que esta embarcação se transformasse num barco fantasma. Durante dois dias, ninguém sabia do paradeiro do navio. Foi necessário recorrer a imagens de satélite para perceber onde estava o Rubymar.
Durante esse período, descobriu-se que o navio manteve-se numa posição relativamente inalterada. Mas depois as correntes mudaram. Além disso, nessa altura foi captada uma imagem de um pequeno objeto junto ao Rubymar. Um especialista ouvido pela Wired suspeita que possa ter sido uma pequena embarcação – e que a âncora do Rybymar terá sido mexida. A partir daí o barco começou a navegar à deriva.
Dois dias depois, a 24 de fevereiro, dá-se o primeiro apagão de internet. Um cabo submarino de internet da empresa Seacom tinha sido comprometido. Cinco minutos depois, outro apagão. Desta vez um cabo da empresa AAE-1. Um terceiro cabo, apelidado de EIG, também deixou de funcionar. Todos localizados a uma profundidade estimada de 150 metros. Países como a Tanzânia, Quénia, Uganda e Moçambique registaram problemas de acesso à internet. Mas os efeitos fizeram-se sentir também no Vietname, Tailândia e Singapura. Estima-se que milhões de pessoas ficaram sem acesso à internet devido aos problemas nestes três cabos.
As provas reunidas pela Wired apontam para que tenha sido a âncora deste navio fantasma a provocar os danos nos três cabos submarinos localizados no estreito Bab-El-Mandeb, enquanto era empurrado pelas correntes e pelos ventos. Apesar de numa fase inicial ter havido suspeitas de que o grupo rebelde Huthis podia ter sabotado diretamente os cabos submarinos, a realidade aponta para que tenha sido um efeito colateral do alegado ataque feito por este grupo armado.
No dia 2 de março, duas semanas após o ataque sofrido, o Rubymar e os seus 171 metros de comprimento, assim como dezenas de contentores de mercadorias, afundavam ao largo do Iémen. Entretanto as ligações de internet foram restabelecidas nos países afetados, graças a sistemas de redirecionamento de tráfego de internet, mas os três cabos destruídos pelo Rubymar continuam inoperacionais.