Vítimas de assédio sexual e violações e cidadãos anónimos reagiram no Twitter e noutros fóruns mostrando desagrado pela decisão do tribunal da Pensilvânia que libertou Bill Cosby ontem. O ator e comediante foi acusado em 2018 por ofensas sexuais, mas agora o Supremo Tribunal da Pensilvânia reverteu essa decisão. O caso de Cosby foi o primeiro da era pós #MeToo e foi visto como um sinal de que os tempos estariam a mudar.
Agora, várias vítimas de situações semelhantes contam a sua experiência e reagem contra esta libertação. “É muito difícil quando casos de violação aparecem mesmo à minha frente. Lembra-me sempre o que me aconteceu o que me faz tremer e passar o dia inteiro com a sensação de que vou vomitar. As vítimas estão aí. Tal como no meu caso, o monstro safa-se” ou “Sempre fui relutante em partilhar a minha experiência, mas envolveu drogas de violação. Quando o reportei à polícia do Campus (totalmente sóbria, porque não bebo – foi posto na minha limonada), acusaram-me de estar na rua e a beber numa fraternidade”, são alguns exemplos encontrados pelo Vice no Twitter.
“Vemos constantemente, em artigos, no Twitter ou em conversas – particularmente com homens – que dizem que o movimento MeToo foi demasiado longe e que está a arruinar vidas de homens” denuncia Alison Turkos, defensora desta causa, sendo ela própria vítima de violação, que aconteceu há quatro anos. O seu caso particular não resultou ainda em acusações criminais. A ativista lembra que a maior parte dos casos não tem esta notoriedade e que se mesmo Bill Cosby, que foi acusado de dezenas de situações de assédio sexual, acaba por ser libertado, as vítimas de outras situações perdem esperança de ver os seus agressores serem condenados também.
Nos EUA, dados do grupo civil RAINN, apontam para que em cada mil agressores sexuais, 975 acabam por ser libertados. Desses mesmos mil casos, apenas 310 são reportados às autoridades.
No caso de Cosby, a sua equipa legal não parou de batalhar, mesmo depois da condenação. “Quem tem acesso ao sistema legal criminal? Quem tem acesso ao hospital para ter kits de violação? Quem tem acesso aos advogados? O sistema está montado de forma a prejudicar vítimas e sobreviventes, para nos quebrar, para não avançarmos. No fim, as vítimas e sobreviventes são sempre os que perdem e os criminosos acabam por sair em liberdade”, condena Turkos.