Os números falam por si. Até ao dia 12 de março, quando o primeiro-ministro António Costa anunciou o fecho das escolas, como resposta à crise da Covid-19, existiam 250 mil utilizadores na plataforma de ensino Escola Virtual, da Porto Editora. Apesar de a medida do Governo só ter efeitos a partir da segunda-feira seguinte [16 de março], foram muitos os alunos que ficaram em casa logo naquela sexta-feira. Desde então os números não param de aumentar – atualmente, a plataforma Escola Virtual tem 550 mil utilizadores, um crescimento acima de 100% em menos de dez dias. O valor foi revelado pela empresa à Exame Informática.
Além do acréscimo no número de utilizadores, desde o dia 13 de março já foram criadas mais de 20.500 turmas pelos professores, já foram realizados mais de 354 mil testes através da Escola Virtual e foram visualizados mais de um milhão de conteúdos. “O tempo de utilização e número de utilizadores diários é cerca de cinco a seis vezes o que tínhamos antes de 13 de março”, explica Paulo Gonçalves, responsável de comunicação da Porto Editora, em resposta por e-mail. “Os números são impressionantes.”
Segundo a empresa, estes são os valores que ajudam a explicar os problemas que têm sido sentidos na plataforma – e que, de acordo com informações apuradas pela Exame Informática, passam por bloqueios na plataforma ou mesmo total incapacidade de utilização da Escola Virtual. Também há queixas de muitas falhas no registo de novos alunos no sistema.
A Escola Virtual é uma plataforma digital, focada no ensino à distância através da internet, e que integra versões digitais dos livros escolares e cadernos de atividades, aulas interativas, testes e outras ferramentas de acompanhamento do estudo. A plataforma pode ser usada por professores, pais e alunos. Esta é uma de várias ferramentas que as escolas têm à sua disposição para tentar dar resposta ao encerramento dos espaços de ensino: outras ferramentas, recomendadas pela Direção-Geral da Educação, incluem a Aula Digital, do grupo Leya, ou a Google Classroom, da tecnológica norte-americana, entre muitas outras.
“Muitas vezes as dificuldades reportadas relacionam-se com uma sobrecarga momentânea na nossa estrutura, outras têm a haver com as ligações domésticas, outras ainda com os fornecedores de telecomunicações”, sublinha Paulo Gonçalves, relativamente às falhas apontadas. A propósito dos operadores de telecomunicações, a empresa diz que tem feito pedidos de aumento da capacidade de largura de banda nos servidores, para conseguir dar resposta ao grande volume de acessos e interações na Escola Virtual. “Têm-nos proporcionado [a largura de banda], mas mesmo isso falha”, revela.
Ainda assim, o porta-voz da empresa garante que “a infraestrutura tecnológica que dá suporte aos serviços da Escola Virtual está a ser monitorizada e tem vindo a ser reforçada continuamente”, estando a ser feitas “intervenções diárias” para responder aos problemas e melhorar a experiência do mais de meio milhão de utilizadores da plataforma.
“Temos investido no reforço das ligações e estamos em contacto direto com as operadoras para, progressivamente, darmos uma melhor resposta”, acrescenta. Ainda assim, o responsável admite que atualmente ainda não está a ser vivido o pico de utilização e que mais utilizadores vão juntar-se à plataforma nas próximas semanas.
Nem a antecipação ajudou
A 13 de março, no dia a seguir ao anúncio do fecho das escolas por parte do primeiro-ministro, a Porta Editora anunciou a disponibilização gratuita, para todos os utilizadores interessados, da sua plataforma de ensino à distância, a Escola Virtual, que já existe há 15 anos. “Antes da Covid-19, a plataforma funcionava perfeitamente bem”, referiu Paulo Gonçalves, em declarações posteriores às respostas enviadas por e-mail.
Mas com o grande volume de acessos vieram os problemas. A Porto Editora diz que o reforço da infraestrutura tecnológica, como a distribuição da plataforma por diferentes servidores, começou mesmo antes do anúncio oficial de disponibilização gratuita da Escola Virtual, “mas o que aconteceu foi um turbilhão de pessoas a entrar”.
A decisão de oferecer, temporariamente, o serviço que é pago, aconteceu numa reunião de emergência feita na semana de 9 de março. “Houve um reforço das infraestruturas e preparação das equipas de apoio das linhas de contacto e da equipa de apoio pedagógico”, diz Paulo Gonçalves. Mas a resposta tem assoberbado as equipas da Porto Editora, que tem uma unidade de 70 pessoas dedicada ao projeto, além da equipa técnica de suporte à plataforma.
“A Escola Virtual está a acomodar, numa verdadeira corrida contra o tempo, todo um sistema nacional de ensino. São dezenas de milhares de novos alunos a entrar todos os dias, aumento exponencial de acessos simultâneos, criação e organização de milhares de turmas, acompanhamento de ligações entre professores e alunos e encarregados de educação, formações de utilização da plataforma, reforço das lógicas de monitorização dos processos de monitorização”, refere ainda o porta-voz como justificação para as queixas que têm sido relatadas por alunos, pais e professores.
A Porto Editora garante que sempre que há dificuldades de acesso, a resolução de problemas é feita “o mais rápido possível”.