Manuel Heitor, ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, não tem dúvidas de que muito do que será a economia portuguesa nos próximos anos depende da capacidade do Estado e das Empresas para abraçar a nova vaga tecnológica. “O digital é uma dimensão crítica para gerar emprego”, recorda numa breve entrevista à Exame Informática.
Na terça-feira, na Alfândega do Porto, 3ª Conferência do Fórum Permanente para as Competências Digitais do programa InCoDe.2030, a mobilização para o digital saiu reforçada com o lançamento de uma iniciativa que visa converter 3000 trabalhadores em profissionais das Tecnologias da Informação, com cursos intensivos de três a seis meses, acrescidos de três meses de trabalho. O programa, que tem o apoio do Governo, tem como principal atrativo a colocação em empresas com salários de 1200 euros. Em paralelo, prossegue a aposta em laboratórios colaborativos com empresas.
“Sabemos que a criação de emprego está muito associada a um nível de competências digitais da população. Daí que sejam as empresas as maiores beneficiadas por este esforço no digital”, sublinha o ministro.
O InCoDe 2030 está a produzir os efeitos desejados na digitalização do País?
Há cerca de duas semanas que foram publicados os novos indicadores da área digital que mostram que Portugal avançou na área do capital humano, com mais formados nesta área. Crescemos quase 60%. Houve um aumento do número de estudantes do ensino superior, o que mostra a importância do ensino superior para que todos consigam perceber o digital. Mas temos muitos outros aspetos que vão das empresas à Administração Pública.
Não quer apontar uma iniciativa concreta?
O digital é uma dimensão crítica para gerar emprego. Temos um novo programa-quadro europeu e por isso temos de mobilizar claramente as empresas para o digital… e também as pessoas, das jovens às mais velhas. Hoje, o digital tem de ter um esforço de mobilização para todos e, por isso, o Governo definiu a digitalização como um dos objetivos para podermos convergir com a Europa. O reforço da formação, para o ensino básico, para a formação de técnicos informáticos, ou na área da inclusão de mais pessoas na Internet é um esforço em que todo devemos estar focados. E é a continuação daquilo que temos vindo a fazer nos últimos anos.
Que balanço pode ser feito das iniciativas que já foram lançadas?
Nos últimos anos, foram abertos concursos para a iniciativas de investigação com a Administração Pública para três áreas: no cadastro do território, em que o uso do satélite é cada vez maior; na área da saúde; e na proteção do consumidor. O InCoDe já deverá apresentar exemplos do que já é feito hoje com Inteligência Artificial na Administração Pública. Um dos setores em que mais se evoluiu, através da graduação de cursos curtos e cursos tecnológicos profissionalizantes, foi no ensino politécnico. Aí, houve um aumento da formação. Todos os anos, entram mais de 10 mil estudantes nesses cursos; esta foi das áreas com maior penetração, com o digital a ser aplicado em vários setores. Outra das realidades importantes: os (lançamentos de) laboratórios colaborativos que juntam instituições científicas e empresas. O Vortex em Vila Nova de Gaia, e o Laboratório Colaborativo e Transformação Digital de Guimarães são dois dos exemplos que acabam de ser anunciados. O Vortex reúne a Altran, com o Inesc Tec, Politécnico do Porto e Universidade Nova de Lisboa. O laboratório de Guimarães junta a Universidade do Minho e um conjunto de empresas, que contam com o Ikea, a Bosch ou a Accenture. São exemplos de novas realidades que nos dão a confiança para fazer mais e melhor. Estes fóruns têm muito a ver com a exposição de casos de sucesso e a troca de ideias entre diferentes atores da sociedade e servem para a troca de ideias e de mobilização de novos atores para o digital
As empresas têm manifestado interesse em participar no InCoDe?
Há muitas instituições da Administração Pública e das escolas… mas os empregadores são, de uma forma geral, são daqueles que mais beneficiam das competências digitais. Sabemos que a criação de emprego está muito associada a um nível de competências digitais da população. Daí que sejam as empresas as maiores beneficiadas por este esforço no digital.
Esta lógica de colaboração compensa face às iniciativas governamentais?
O InCoDe é tudo menos governamentalizado. Estes fóruns são organizados pela sociedade civil. (O InCoDe 2030) É organizado pela Associação de Promoção e Desenvolvimento das Comunicações (APDC), mas envolve um leque muito diversificado das empresas à Administração Pública, passando ainda pelas autarquias. As políticas podem assim receber um feedback importante das pessoas – e não só o relatório de avaliação que foi apresentado.