A melhor prova de intemporalidade da música Verdes Anos, de Carlos Paredes, é ter sido uma das obras escolhidas por um jovem de 18 anos do Barreiro para adaptar ao icónico jogo Guitar Hero. Sim, leu bem – graças ao trabalho de Miguel Casanova é possível tocar Carlos Paredes em Guitar Hero e Clone Hero, este último a versão mais procurada atualmente pelos fãs desta série de videojogos.
Para quem não conhece, Guitar Hero é um jogo cujo pico da popularidade aconteceu na primeira década do século XXI: no televisor ou ecrã do computador aparecem os guias musicais com as cores dos botões e o tempo de ação que os jogadores devem seguir; já os jogadores têm nas mãos uma réplica de uma guitarra, com a qual devem executar as informações do guia. Pode ver um exemplo, justamente o da música Verdes Anos, no vídeo em cima.
«A ideia surgiu naturalmente. Sempre me interessei pelo jogo e pela criação de música para o jogo. E sempre que pensava em fazer alguma música, pensava em algo português, pois é algo que tenho a certeza que não está feito e vai ser recompensador», conta o jovem, por email, em resposta à Exame Informática.
O palpite não podia estar mais correto. Quando partilhou a criação na rede social Reddit, houve uma pequena “explosão” de nostalgia: pela chegada do trabalho de um conhecido autor português naquela que já foi uma das mais populares séries de videojogos; e também por recuperar um jogo que não vê novos lançamentos desde 2015.
«Eu apenas publiquei no Reddit para ver se havia algumas pessoas interessadas em Clone Hero em Portugal, mas não só atingiu essas pessoas, como atingiu as pessoas que têm a nostalgia por Guitar Hero, porque foi das maiores séries durante muitos anos. O mais interessante foi ver muitas pessoas nos comentários a pedirem ajuda em como jogar a música», sublinha o barreirense.
Como Miguel Casanova explica, apesar de a versão criada ter sido pensada para a versão gratuita e “aberta” de Guitar Hero – o Clone Hero –, existem ferramentas disponíveis para colocar a música nas versões de computador dos jogos originais, como Guitar Hero 3.
O processo de conversão de uma música para o ambiente de Guitar Hero é algo que já começa a ser natural para Miguel Casanova. Conta-nos que as outras músicas nas quais já tinha trabalhado «não têm a qualidade desta» e que primeiro «toca a música na cabeça». Daí que só tenha precisado de cinco horas para fazer a adaptação de Verdes Anos – e até podia ter sido mais rápido, não fosse a “dificuldade” do autor. «Carlos Paredes e o fado no geral são famosos por não haver um metrónomo constante, é sempre um tempo muito incorreto e isso dificulta o meu trabalho.»
E para o jovem não basta converter a música, também é importante que seja visualmente apelativo no ecrã. «Quando chego ao criador de música, vejo o que vai ser mais visualmente apelativo e o que vai fazer o jogador sentir que está mesmo a tocar a música, que não seja apenas uma “cópia barata” do que víamos nos jogos Guitar Hero. (…) Se é para fazer uma música, é para a ter o mais completa possível».
E que artistas se seguem a caminho de Guitar e Clone Hero? «Gostava de fazer tudo o que gosto de música portuguesa, mas tem de ser algo que faça sentido estar no jogo. Mas em breve, é possível que refaça todas as músicas que fiz de Capitão Fausto e se possível ir para outros artistas com músicas que me parecem que seriam bons resultados, tais como Jorge Palma, Ganso, Virgem Suta, Paus, Linda Martini e Ornatos Violeta», detalha.
Até lá, é ao som de Carlos Paredes e Verdes Anos que pode matar saudades do virtuoso da guitarra portuguesa e também do jogo Guitar Hero.