A mais recente apresentação da Neuralink, empresa de implantes cerebrais criada pelo multimilionário Elon Musk e também diretor da Tesla e SpaceX, parecia a história dos três porquinhos: Joyce, que não tinha qualquer implante; Dorothy, que já teve um implante, mas foi entretanto removido; e Gertrude, que ainda tem um implante ligado ao cérebro. O objetivo de Musk era claro: mostrar que com ou sem chip, mesmo que já removido, todos os porcos comportavam-se de forma semelhante e estavam plenos das suas capacidades.
“É mais complicado do que isto, mas é, de muitas formas, uma espécie de Fitbit no teu crânio com fios pequenos”, disse Elon Musk sobre a nova versão do chip. E o formato mudou radicalmente: se antes era um pequeno acessório com ligação ao cérebro para usar atrás da orelha, agora o objetivo para o implante, batizado de The Link [a ligação, em tradução livre], é que esteja situado na parte superior e central do crânio. Em julho, a agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos (FDA na sigla em inglês) aprovou o dispositivo como um equipamento de descoberta (breakthrough).
O The Link tem um diâmetro de 23 milímetros e oito milímetros de espessura. Durante a apresentação que fez entre a noite de sexta-feira e a madrugada de sábado passado, Elon Musk garantiu que o dispositivo fica completamente em linha com o restante crânio, não criando saliências para o utilizador.
Este implante é depois ligado ao cérebro através de 1024 ligações por fio, extremamente finas, que monitorizam a atividade elétrica do tecido cerebral circundante. E segundo o CEO da Neuralink, o The Link tem autonomia para um dia de utilização e poderá ser carregado através de dispositivos de indução, tal como atualmente se faz para carregar um relógio inteligente.
Para fazer a ligação entre o chip e o cérebro, a Neuralink desenvolveu, em parceria com o Woke Studio, uma empresa de design, uma nova versão de um robô cirúrgico que estará responsável por colocar os mais de mil fios no cérebro do utilizador. Todo o processo terá a duração de uma hora, segundo Elon Musk, pelo que um utilizador poderia fazer a cirurgia de manhã e sair do hospital ainda durante a tarde.
Na demonstração, foi também visível o funcionamento do chip em tempo real – sempre que o focinho do porco Gertrude tocava no chão, via-se automaticamente um conjunto de barras de atividade cerebral que estava a ser captada pelo chip The Link. O animal já tem o implante há dois meses.
Apesar da demonstração do funcionamento do chip em tempo real, Elon Musk garantiu que esta apresentação teve como grande objetivo funcionar como uma montra para o recrutamento de profissionais de diferentes áreas – atualmente a Neuralink já emprega 100 pessoas, mas o objetivo do multimilionário norte-americano é que possa chegar às 1000 nos próximos anos.
O grande propósito da Neuralink é permitir uma melhor ligação entre o cérebro e o mundo digital, mas a primeira grande prioridade da empresa é devolver capacidades perdidas a pessoas afetadas por doenças relacionadas com o cérebro.