O planeta Terra não tinha vida há quatro mil milhões de anos, mas era rico em atividade natural como ondas, fluxos acelerados e quedas de água que colocavam água em movimento em diversas direções e formatos. Uma nova experiência sugere que estas gotas de água podem ter ajudado a originar a ‘faísca’ necessária para dar início à construção dos chamados blocos essenciais ao desenvolvimento da vida.
O químico Richard Zare da Universidade de Stanford, nos EUA, teoriza que pequenas cargas elétricas se formaram em gotas de água e libertaram pequenas quantidades elétricas, o que terá sido suficiente para alimentar as reações que deram origem à vida como a conhecemos. Esta é uma das contribuições mais recentes para a discussão de como terá surgido exatamente a vida na Terra entre 3,5 e 4 mil milhões de anos atrás.
Um ponto chave na discussão sobre a origem da vida na Terra prende-se com o conhecimento de onde surgiram os químicos complexos que constituem as células vivas como os lípidos nas membranas, os nucleótidos nos genes ou os aminoácidos que constituem os elementos ‘trabalhadores’ das células. A maior parte da informação disponível sugere que não havia estas moléculas complexas disponíveis, mas sim os ingredientes ‘brutos’ que lhes dão origem, como carbono em várias combinações, hidrogénio, nitrogénio, oxigénio e fósforo. Para dar origem depois às moléculas complexas seria necessário uma fonte de energia, que Richard Zare sugere ter vindo de ‘micro-raios’ que se formaram espontaneamente entre gotas de água.
A equipa conduziu várias experiências e notou que, quando as gotas de água se movimentam, desenvolvem-se diferentes cargas elétricas. É um processo semelhante ao que origina, por exemplo, a formação de relâmpagos nas nuvens, mas a uma escala muito, muito mais pequena. A captação dos micro-raios, invisíveis ao olho nu, foi possível com recurso a câmaras de elevada velocidade em laboratório, explica o Space.com.
A nova experiência usou vapor de água colocado numa câmara com uma mistura de gases que replicavam o ambiente da Terra há dois mil milhões de anos e foram identificados pequenos raios a surgir com a movimentação das gotas de água. Estes resultados corroboram uma experiência realizada em 1952, na Universidade de Chicago, por Stanley Miller e Harold Urey. Na altura, esta teoria foi recebida com críticas porque os relâmpagos não acontecem com frequência suficiente para desencadear reações químicas em algo tão vasto como um oceano ou um grande corpo de água. A equipa de Zare sugere que o princípio é válido, mas que terá acontecido a uma escala menor.